Talvez um dia a gente entenda a imensidão
do amor de mãe. Talvez um dia, nós que ainda não experimentamos dar a vida a
alguém, saibamos de onde vem tanta força e coragem, tanto empenho e afeto. Quem
sabe no futuro, ao olhar nossos filhos, tenhamos compreensão do que movia
nossas mães na missão de nos criar, nos erguer, nos formar, ainda que sob o
custo de seus próprios sonhos. Por hora, nos resta reconhecer tudo que
recebemos, nos cabe o aconchego do carinho mais doce que o mundo já viu.
Há os que tentam explicar essa mistura de
leoa que protege a cria rangendo os dentes ao mesmo tempo que a acolhe em
braços ternos. Há quem tente nominar esse sentimento que impressiona e intriga.
Mas é tolice buscar explicação para a intensidade que sustenta o mais nobre dos
amores. É inútil querer entender. Ser mãe apenas é… é peito que chora com o
choro da prole, é sono que some com o filho na rua, é sorriso que se alarga com
o primeiro passo, o primeiro dente, o primeiro emprego e todo o resto que virá.
É querer mais o bem do outro que o próprio bem sabendo que na maternidade não
prevalece o singular.
Ser mãe é bater de frente com a culpa e
precisar prosseguir. Romper padrões. É dar à luz e também nascer no parto. E a
cada novo desafio. E mil vezes se preciso. E no renascimento tornar-se mais
inteira do que antes. É encontrar um merthiolate perdido no estojo de maquiagem
e um laço de fita rosa na gaveta de pijama. É ver a filha subir no salto tão
maior que os pés imaginando-se grande e pedir aos céus que ela não cresça tão
rápido. É sentir saudade do filho que mora longe e, inexplicavelmente, também
do que mora perto. É saber que um dia eles se vão. E que pra sempre serão a
razão das preces mais sinceras.
Há tantas que carregaram no ventre a mais
bela codificação da vida e desde então alternam êxitos e abnegações. Há tantas
que honram com suor os caminhos de seus filhos, na labuta diária, no anseio de
que nada falte. Tantas que nos permitem falhar enquanto seguram as pontas nos
oferecendo colo e feijão quentinho, curando nossas feridas e fazendo a dor
parecer pequena quando dizem que tudo dará certo. E como mágica passamos a
acreditar que blindados por essa enormidade de amor saberemos enfrentar os
medos e agruras que não poupam ninguém.
Há tantas Marias e Anas e Fátimas, Sílvias
e Cássias. Márcias, Lorenas, Fernandas, Julianas, Olgas, Verônicas, Terezas e
Alines. Tantas Luizas, Tatianas, Rutes, Valquírias, Sandras, Paulas e Joanas.
Robertas, Solanges, Camilas, Marinas, Alices. Doidas varridas com raiva.
Sábias. Esgotadas. Incansáveis. Rígidas. Amáveis. Falíveis. Heroicas.
Sensíveis. Humanas. Surreais. Há tanto delas em nós e tantos de nós nelas.
Não há ferida que não se cure com colo e amor de mãe publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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