sexta-feira, 24 de maio de 2019

Não existe nada mais brega do que uma mulher submissa

Não existe nada mais brega do que uma mulher submissa

Adoro mudar meus cabelos. Deixar longo e depois curto. Com
franja. Sem franja. Preso. Solto. Natural ou com luzes. Agora voltei a pintar:
cobri o castanho de vermelho — e estou adorando! É impressionante a autoestima
que habita nos cabelos de uma mulher.

Estava no salão de beleza. Enquanto a cabeleireira retocava
minha raiz com tintura vermelha, uma moça bonita fazia escova ao meu lado. Ela
tinha negros cabelos lisos até a cintura. A outra cabeleireira, que trabalhava
na escovação, estava tão compenetrada em seu serviço que dava gosto de assistir
a cena: parecia uma dança sincronizada entre escova e secador.

Então uma voz masculina tirou-me da minha viagem pelos
cabelos alheios. Um homem se sentou ao lado da mulher de cabelos longos e
pareceu estar satisfeito com o que via. Normal, pensei. Era uma moça bonita,
com cabelos sedosos e uma escovação próxima da perfeição. O que eu não esperava
foi ouvi-la dizer num tom ansioso: “eu queria mesmo é cortar bem curtinho”.

Meu radar para ouvir a conversa dos outros parecia uma
sirene histérica. Me endireitei na cadeira e esperei a resposta do homem: “se
você fizer isso, nem precisa voltar para casa”.

Ouvia-se somente os secadores de cabelo por aquele salão.
Mulheres entreolharam-se em silêncio. Uma baixou a cabeça — devia ser vergonha
alheia. Outra pegou uma revista — desconfio que era para disfarçar enquanto
ouvia melhor a conversa. E o homem continuou: “se um dia você cortar o cabelo
sem me avisar, te trago de volta para raspar tudo!”.

É triste presenciar uma cena assim em pleno século 21. Por
ser independente e dona do meu nariz (e dos meus cabelos!), fico chocada. Não
acho estranho uma mulher se arrumar do jeito que o parceiro gosta para agradá-lo.
Isso é legal. Não há problema em querer agradar a quem se ama. A questão fica
complicada quando a mulher permite se anular e deixa de ser ela mesma. É como toda
mulher que coloca silicone, faz lipoaspiração e outros tratamentos estéticos
para “dar uma melhorada no relacionamento com o marido”. É sério, já ouvi isso.

Aquela moça foi embora com uma beleza que não era dela. Seus
longos cabelos negros brilhavam em sedução e leveza, isso é fato; mas aquele
brilho não combinava com o embotamento do olhar de quem carregava um pesar
dentro de si mesma. Não existe nada mais brega do que uma mulher submissa.

Saí do salão renovada. Em parte, aquela sensação era pelo
meu novo corte chanel e vermelho. Mas, no fundo, eu estava satisfeita comigo
mesma. Tive vontade de me abraçar ali mesmo, no meio da rua. Por isso, resolvi
escrever esse texto. É o meu desejo para toda menina, moça e mulher: seja a
mulher da sua vida!

Não existe nada mais brega do que uma mulher submissa publicado primeiro em https://www.revistabula.com



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