Já ouviu falar sobre mutualismo, mas não sabe o que significa? Então, acompanhe esse artigo para entender um pouco mais sobre esse tipo de relação dos seres vivos, como ele funciona e alguns exemplos.
Primeiramente, é importante saber que os seres vivos que compõem o ecossistema sofrem constante influência de seu ambiente, mas também atuam sobre ele. Os organismos de uma comunidade interagem exercendo influências recíprocas que se refletem nas populações envolvidas.
Essas interações podem ocorrer entre indivíduos da mesma população (intraespecíficas), como as colônias e sociedades, ou entre indivíduos de populações de espécies diferentes (interespecíficas), como o mutualismo e o comensalismo, por exemplo.
Quando analisadas isoladamente, essas interações podem se revelar harmônicas ou desarmônicas. As interações harmônicas ou positivas são aquelas em que não há prejuízo para nenhuma das populações da interação. Já nas interações desarmônicas ou negativas, pelo menos uma das populações sofre algum tipo de desvantagem.
Entretanto, considerando o total das interações em uma comunidade, verifica-se que mesmo as desarmônicas podem ter efeitos indiretos positivos, pois são importantes para o equilíbrio das populações que interagem.
Mutualismo
É um tipo de relação interespecífica harmônica em que os participantes se beneficiam e mantêm relação de dependência. Às vezes, essa relação é extremamente íntima, como acontece com os líquens. Eles representam uma associação de fungos e algas dependentes funcionalmente e integrados morfologicamente.
Os líquens são classificados em espécies, embora na realidade cada espécie de líquen seja formada por duas espécies diferentes de organismos (alga ou cianobactéria e fungo).
Alguns mamíferos herbívoros, principalmente ruminantes, abrigam em seu tubo digestório bactérias que produzem celulase, enzima que digere celulose, transformando-a em carboidratos aproveitáveis: as bactérias utilizam uma parte e o animal utiliza outra. Esse é mais um dos exemplos de mutualismo.
Outro caso é o de protozoários que também produzem células e vivem no tubo digestório de cupins, recebendo alimento já particulado ingerido por esses insetos. Isso possibilita aos cupins o aproveitamento dos nutrientes provenientes da digestão da madeira. Esses protozoários dependem dessa associação, pois só sobrevivem no corpo dos cupins.
Outros exemplos de mutualismo são as micorrizas, associações entre fungos e raízes de plantas, e as bacteriorrizas, associações entre bactérias fixadoras de nitrogênio e raízes de plantas.
Nas micorrizas, os fungos contribuem com a absorção de nutrientes minerais do solo, beneficiando as plantas, enquanto estas fornecem nutrientes orgânicos aos fungos. Nas bacteriorrizas, as bactérias fixam o nitrogênio do ar que está entre as partículas do solo e passam para a planta, que fornece proteção e energia às bactérias.
Interações interespecíficas
As interações interespecíficas podem ser: harmônicas, como o mutualismo, protocooperação, inquilinismo e comensalismo; ou desarmônicas, a exemplo do amensalismo (ou antibiose), predatismo, parasitismo e competição interespecífica.
Nas interações ecológicas interespecíficas, costuma-se utilizar sinais para representar o efeito dessa relação sobre as populações envolvidas. O sinal + é usado quando a população cresce; o sinal –, quando a população diminui; e o sinal 0, quando não há crescimento nem redução da população. Assim temos:
- (- -): competição
- (+ +): mutualismo, quando as duas populações têm interação favorável e são completamente dependentes uma da outra
- (+ +): protocooperação, quando ambas as populações interagem favoravelmente, mas não de forma obrigatória
- (+ 0): comensalismo
- (- 0): amensalismo
- (+ -): predação, incluindo a herbivoria
- (+ -): parasitismo.
Protocooperação x mutualismo
Na protocooperação, embora os participantes se beneficiem, eles podem viver de modo independente, sem a necessidade de se unir. No mutualismo, a união é obrigatória, e os indivíduos são interdependentes.
Um dos mais conhecidos exemplos de protocooperação é a associação entre a anêmona-do-mar e o paguro, um crustáceo semelhante ao caranguejo, também conhecido como bernardo-eremita ou ermitão.
O paguro tem o abdômen mole e costuma ocupar o interior de conchas abandonadas de gastrópodes. Costuma colocar sobre a concha uma ou mais anêmonas-do-mar. Dessa união, surge o benefício mútuo: a anêmona têm células urticantes, que afugentam os predadores, e o paguro, ao se deslocar, possibilita que a anêmona explore melhor o espaço em busca de alimento.
Um exemplo muito comum de protocooperação pode ser observado nas pastagens brasileiras: aves que pousam sobre bois e vacas para se alimentar de carrapatos. As aves encontram alimento, e os bois livram-se dos carrapatos que os parasitam (ectoparasitas).
Outro exemplo de protocooperação é o caso de insetos e pássaros polinizadores. Eles obtêm das plantas o néctar que lhes servem de alimento, ao mesmo tempo em que transportam o pólen de uma flor para a outra, contribuindo involuntariamente para a polinização das plantas.
Comensalismo e inquilinismo
Nesses dois tipos de associação apenas um dos participantes se beneficia, sem, no entanto, causar prejuízo ao outro. No comensalismo, a associação ocorre em função da obtenção de alimento. No comensalismo a espécie beneficiada recebe o nome de comensal e alimenta-se dos restos deixados pela espécie hospedeira.
Um exemplo de comensalismo é a associação do tubarão com o peixe-piloto. Os peixes-pilotos (chamados comensais) vivem ao redor do tubarão, alimentando-se dos restos de comida que escapam da boca desse predador.
No inquilinismo, a associação ocorre frequentemente por proteção, abrigo ou suporte físico. Um exemplo de inquilinismo envolve o fieráster, um pequeno peixe que vive como um inquilino dentro do corpo do pepino-do-mar para se alimentar e depois volta.
Nesse caso de inquilinismo, o peixe encontra proteção no corpo do pepino-domar, o qual, por sua vez, não recebe benefício nem sofre desvantagem. Entre os vegetais temos as epífitas (orquídeas e bromélias), que se fixam sobre as árvores sem contudo causar-lhes nenhum prejuízo.
Simbiose ou mutualismo?
O termo simbiose, criado em 1879 pelo biólogo De Bary, tem sido equivocadamente utilizado como sinônimo de mutualismo. Simbiose refere-se originalmente a toda e qualquer associação estável entre indivíduos de espécies diferentes, seja interação positiva ou negativa.
Assim, poderíamos considerar três tipos bem definidos de simbiose: o parasitismo, o comensalismo e o mutualismo.
Atualmente, porém, a utilização do termo simbiose tem sido ampliada, aplicando-se a qualquer tipo de relação interespecífica. A classificação das interações ecológicas pode variar muito. Em algumas, o comensalismo inclui o inquilinismo, que deixa de ser uma das categorias.
Com o mutualismo e a protocooperação acontece algo semelhante: o mutualismo pode incluir a protocooperação, que deixa de ser uma categoria válida. Além disso, há casos em que os limites entre uma categoria e outra não são muito nítidos, e há tipos de interações que não se encaixam bem em nenhuma categoria.
GUEDES, Maria Helena. “Simbiose“. Clube de Autores (managed).
PINTO-COELHO, Ricardo Motta. “Fundamentos em ecologia“. Artmed Editora, 2009.
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