Sou o Vinícius Rodrigues, músico, blogueiro e que ama literatura. Sim, amo ler livros que sejam capazes de mudar a história da vida das pessoas.
Também gosto de ler notícias sobre arte, pintura, livros, lançamentos de músicas e assuntos políticos. Sou amante dos livros de história do Brasil.
Durante a quarentena, artistas de todo o mundo estão fazendo transmissões de shows ao vivo pela internet. Mas, entre tantas opções de lives, algumas não agradaram tanto o público. A Bula fez uma enquete para saber quais foram, na opinião dos leitores, as piores transmissões da quarentena e reuniu as dez mais votadas em uma lista.
Com o cancelamento de eventos em todo o mundo, devido à pandemia da Covid-19, as lives surgiram como uma ótima estratégia para os cantores levarem suas músicas aos confinados, arrecadar doações e ainda continuar lucrando. A mais assistida, até o momento, foi a da cantora Marília Mendonça, com mais de 3,3 milhões de acessos simultâneos. Mas, entre tantas opções de lives, algumas não agradaram o público e foram muito criticadas. A Bula, então, fez uma enquete para saber quais foram, na opinião dos leitores, as piores transmissões da quarentena. Os dez mais votados (e um bônus) foram reunidos em um ranking. É importante destacar que a seleção não tem intenção de ser universal ou definitiva, pois representa apenas a opinião das pessoas consultadas.
Bruno e Marrone
A dupla sertaneja Bruno e Marrone cantou seus maiores sucessos em uma live realizada no dia 9 de abril. Apesar do grande número de acessos — cerca de 1,2 milhão — os dois estavam aparentemente embriagados e se tornaram assunto nas redes sociais devido às piadas, comentários políticos e palavrões desferidos durante a apresentação.
90
Valesca Popozuda
A cantora e dançarina Valesca Popozuda fez duas lives no Instagram cantando os famosos funks “proibidões”. A segunda apresentação, realizada na madrugada do dia 11 de abril, foi interrompida por infringir as regras rede social, já que Valesca estava usando um pênis de borracha como microfone.
80
Zé Neto e Cristiano
A dupla sertaneja Zé Neto e Cristiano realizou uma live no dia 12 de abril. Embalados por muita bebida alcoólica, eles fizeram piadas durante toda a transmissão. Mas, o momento polêmico aconteceu quando os cantores criticaram a imprensa e defenderam a realização de lives com uma equipe por trás.
70
César Menotti & Fabiano
A dupla sertaneja César Menotti & Fabiano realizou uma live no dia 16 de abril para arrecadar doações. Mas, o show foi tirado do ar por não respeitar as regras do YouTube. Os cantores veicularam propagandas publicitárias fora dos moldes permitidos pela plataforma de vídeos.
60
Belo
O cantor de pagode Belo realizou uma live em sua casa, no dia 22 de abril. A apresentação foi criticada por não obedecer às regras da OMS: em fotos, funcionários que montaram a estrutura estavam sem máscaras de proteção. Além disso, os internautas aproveitaram a live para cobrar uma dívida de Belo com o ex-jogador Denilson.
50
Bonde da Stronda
Bonde da Stronda é uma dupla formada pelos cantores Diego Thug e Léo Stronda, que cantam hip hop e stronda, um estilo musical nascido no Rio de Janeiro. Durante a quarentena, eles fizeram duas lives para os fãs: nos dias 12 e 29 de abril.
40
Joelma
A cantora Joelma, que ficou conhecida como vocalista da banda Calypso, realizou uma live em sua casa no dia 22 de abril. Acompanhada por um único dançarino, ela cantou por 4 horas, dançou com uma vassoura e tomou açaí ao vivo. Mas, foram os figurinos extravagantes de Joelma que ganharam as redes sociais.
30
Rodriguinho
Conhecido pelo trabalho com o grupo Os Travessos, o pagodeiro Rodriguinho fez uma live cantando seus maiores sucessos no dia 10 de abril. Mas, o cantor teve dificuldade para alcançar algumas notas e desafinou muito. Após as críticas nas redes sociais, ele tirou o vídeo do ar.
20
KLB
Longe dos palcos há anos, o grupo KLB se reuniu novamente para uma live, no dia 10 de abril. Os fãs da banda, que fez sucesso no início dos anos 2000, comemoraram o retorno. Mas, os cantores foram criticados no Twitter pela desafinação e por passarem a maior parte do tempo conversando.
10
Capital Inicial
No dia 3 de maio, o cantor Dinho Ouro Preto mostrou que já estava recuperado da Covid-19, ao liderar uma live com a banda Capital Inicial. Mas, quando decidiu cantar “Bohemian Rhapsody”, clássico do Queen, Dinho desafinou, esqueceu a letra e acabou se tornando um meme nas redes sociais.
Bônus
Fagner
Diretamente de uma fazenda no interior de Minas Gerais, o cantor cearense Fagner realizou live para arrecadar doações no dia 12 de abril. Cantando os seus maiores sucessos, Fagner fez uma apresentação no estilo voz e violão. Nas redes sociais, os internautas reclamaram da falta de qualidade técnica.
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Conhecidos popularmente como “Coming of age”, os filmes sobre amadurecimento geralmente apresentam protagonistas jovens que precisam fazer escolhas difíceis, que podem mudar suas vidas para sempre. Para os espectadores que gostam desse subgênero, a Bula reuniu em uma lista dez ótimas opções disponíveis na Netflix.
Conhecidos popularmente como “Coming of age”, os filmes sobre amadurecimento geralmente apresentam protagonistas em um momento específico da adolescência ou da juventude, no qual precisam tomar decisões importantes que envolvem carreira, relacionamentos amorosos ou familiares. Ou seja, escolha difíceis que trazem ensinamentos valiosos para toda a vida. Para os espectadores que gostam desse subgênero, a Bula reuniu em uma lista dez ótimas opções disponíveis na Netflix. Entre os longas escolhidos, destacam-se “Mulheres do Século 20” (2016), de Mike Mills; e “Quase 18” (2017), dirigido por Kelly Fremon. Os títulos foram organizados de acordo com o ano de lançamento.
Efeito Pigmaleão (2020), Grand Corps Malade e Mehdi Idir
Samia Zibra, uma orientadora educacional, é contratada para trabalhar numa escola em Saint-Denis, uma das áreas mais pobres de Paris. Com o passar do tempo, ela descobre os problemas enfrentados pelos alunos, a maioria descendentes de imigrantes, que não têm perspectivas de vida. Mesmo que esses estudantes sejam considerados difíceis de lidar, Samia faz de tudo para ajudá-los a lutar por um futuro melhor.
Por Lugares Incríveis (2020), de Brett Haley
Violet Markey é uma adolescente que sente culpa por ter sobrevivido ao acidente que matou sua irmã. Theodore Finch é perseguido no colégio e em casa. Prestes a cometer suicídio, os dois se conhecem no alto de uma torre e se tornam grandes amigos. Violet e Theodore decidem viajar juntos pelo estado onde moram. Ao longo da jornada, eles descobrem os motivos pelos quais ainda vale a pena viver.
Você nem Imagina (2020), Alice Wu
Ellie Chu é uma estudante tímida e inteligente. Para ganhar dinheiro e contribuir com as contas em casa, ela faz os trabalhos escolares dos colegas. Paul, um jogador de futebol com dificuldades para se expressar, pede que Ellie o ajude a escrever uma carta para Aster Flores, a garota mais popular do colégio. Ellie aceita a missão, mas com o passar do tempo também se apaixona por Aster.
Alguém Especial (2019), Jennifer Kaytin Robinson
A aspirante à jornalista Jenny acaba de conquistar o emprego de seus sonhos em uma famosa revista de música e está pronta para deixar Nova York rumo a São Francisco. Mas, seu namorado, com quem está há nove anos, não aceita continuar o relacionamento à distância. Com o coração partido, Jenny convida suas amigas Blair e Erin para uma última noite de aventuras em Nova York.
O Rei (2019), David Michôd
Descontente com a realeza, o príncipe rebelde Hal dá as costas à vida real e decide viver entre os plebeus. Mas, com a morte de seu pai tirano, ele é coroado Rei Henrique V da Inglaterra, sendo forçado a viver no mundo que havia abandonado. Agora, o jovem líder terá que aprender a lidar com as pressões políticas, a guerra deixada por seu pai e seus conflitos pessoais. O filme é inspirado na peça “Henriad”, de William Shakespeare.
Quase 18 (2017), Kelly Fremon
Nadine nunca teve uma boa relação com a mãe e o irmão mais velho, mas sempre foi apegada ao pai. Quando ele morre, ela sente que a única pessoa com quem ainda pode contar é Krista, sua melhor amiga da escola. Mas, tudo se complica quando Nadine descobre que Krista está namorando com o seu irmão, Darian. Sentindo-se completamente sozinha, Nadine começa a tomar atitudes egoístas e inconsequentes.
O Espaço Entre Nós (2017), Peter Chelsom
Em uma missão secreta, uma astronauta descobre que está grávida. Ela acaba dando à luz em Marte e morre durante o parto. Aos 16 anos, Gardner, o primeiro ser humano nascido em solo marciano, decide fazer uma viagem à Terra para conhecer sua família paterna. Para isso, ele conta com a ajuda de Tulsa, uma garota que conheceu pela internet. Mas, logo Gardner descobre que seus órgãos não resistem à atmosfera da Terra.
Tudo e Todas as Coisas (2017), Stella Meghie
Maddie é uma garota de 18 anos que nunca saiu de casa. Diagnosticada com uma síndrome rara, ela não tem um organismo capaz de combater vírus e bactérias, por isso vive isolada, sendo tratada pela mãe, que é médica e extremamente preocupada. Um dia, uma nova família se muda para a casa ao lado e, pela janela, Maddie começa a se comunicar com Olly. Os dois se apaixonam, mas Maddie sabe que nunca poderá tocá-lo.
Mulheres do Século 20 (2016), Mike Mills
Na Califórnia dos anos 1970, Dorothea se esforça para cuidar do filho adolescente Jamie, apesar de todas as diferenças que existem entre os dois. Para isso, ela conta com a ajuda de duas amigas: Abbie, uma fotógrafa aficionada pela cultura punk; e Julie, uma jovem inteligente e provocadora. Juntas, essas três mulheres ensinam a Jamie lições valiosas sobre a vida, os relacionamentos e o amor.
Gênio Indomável (1997), Gus Van Sant
Will Hunting trabalha como faxineiro em uma famosa universidade, onde o seu talento para a matemática é descoberto pelo professor Gerry Lambeau. Após uma briga, ele é julgado culpado, mas consegue ser liberado da cadeia ao aceitar trabalhar com Gerry e frequentar sessões de terapia. Ele debocha de todos os analistas, até encontrar Sean Maguire, com quem irá aprender lições importantes sobre a vida.
Para um apaixonado por livros, algumas leituras são essenciais ao longo da vida. Estas obras fundamentais contam a história da literatura, destrincham a personalidade humana e expõem as conquistas e mazelas da sociedade. Para os que desejam conhecer algumas destas obras-primas, os editores da Bula reuniram 15 ótimas indicações em uma lista.
Para um apaixonado por livros, algumas leituras são essenciais ao longo da vida. Estas obras fundamentais contam a história da literatura, destrincham os múltiplos aspectos da personalidade humana e expõem tanto as conquistas quanto as mazelas da sociedade. Para os que desejam conhecer algumas destas obras-primas, os editores da Bula reuniram 15 ótimas indicações em uma lista. Entre as selecionadas, estão alguns clássicos, como “Hamlet” (1603), de William Shakespeare; e outros exemplares mais atuais, como “O Guia do Mochileiro das Galáxias” (1979), de Douglas Adams; e “Amada” (1987), de Toni Morrison. Os livros estão organizados de acordo com a data de lançamento: do mais recente para o mais antigo.
Amada (1987), Toni Morrison
A história se passa nos anos posteriores ao fim da Guerra Civil americana. Sethe é uma ex-escrava que, após fugir com os filhos da fazenda em que era mantida, foi refugiar-se na casa da sogra. No caminho, ela dá à luz a menina Denver. Quando a sogra morre, Sethe passa a viver sozinha com Denver na casa da família, que é assombrada por espíritos. Paul, um ex-escravo, aparece para afugentar as assombrações e tudo permanece em paz até a chegada da jovem Amada, o fantasma da primeira filha de Sethe, que morreu ainda bebê. O livro ganhou o prêmio Pulitzer de 1988 e foi eleito a obra de ficção mais importante dos últimos 25 anos pelo “New York Times”, em 2006.
Meridiano de Sangue (1985), de Cormac McCarthy
Com base nos acontecimentos históricos ocorridos na fronteira entre os EUA e o México no século 19, Cormac McCarthy reinventa a mitologia do Oeste americano. A história acompanha um garoto sem nome, conhecido apenas como “kid”, que é forçado a deixar o lar ainda na infância. Para sobreviver, ele ingressa na gangue brutal do capitão John Glanton, uma companhia de mercenários que, a mando dos governantes locais, atravessa o deserto com a missão de matar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos. Glanton é acompanhado pelo juiz Holden, um personagem macabro que nunca dorme e anota em um caderno todas as suas observações cruéis.
O Conto da Aia (1985), Margaret Atwood
A história se passa em Gileade, um Estado teocrático e totalitário, localizado onde um dia existiu os Estados Unidos. Esse novo governo foi criado por um grupo fundamentalista autointitulado “Filhos de Jacó”, com o objetivo de “restaurar a ordem”. Anuladas por uma opressão sem precedentes, as mulheres não têm direitos e são divididas em categorias: esposas, marthas, salvadoras e aias. As aias pertencem ao governo e existem unicamente para procriar. Entre elas, está June, nomeada Offred, que é afastada de sua família para servir a um comandante. Apesar de ser designada para dar um filho ao seu chefe, Offred se envolve amorosamente com Nick, o motorista da família, e compartilha segredos de seu passado com ele.
O Guia do Mochileiro das Galáxias (1979), Douglas Adams
Considerado um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica, o livro conta a história de Arthur Dent, um inglês azarado que sobrevive à destruição da Terra graças à ajuda de seu amigo, Ford Prefect, um E.T. que vivia disfarçado de ator desempregado enquanto fazia pesquisa de campo para a nova edição do Guia do Mochileiro das Galáxias, o melhor guia de viagens interplanetárias. Levado por Prefect, Arthur vive situações alucinantes viajando pelo espaço, faz novas amizades e descobre o verdadeiro sentido da vida. Esse é o primeiro volume da coleção “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, que possui cinco livros. Adams, que também era professor e produtor de rádio, morreu em 2001.
Cem Anos de Solidão (1967), de Gabriel García Márquez
Uma das obras-primas de Gabriel García Márquez, o livro narra a fantástica e triste história da família Buendía, que vive na pequena e fictícia Macondo, ao longo de um período de cem anos. A trama acompanha as diversas gerações da família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo em que vivem. Os Buendía nascem e morrem, vão embora ou permanecem na aldeia até seus últimos dias. O que todos possuem em comum é a luta contra a realidade e a solidão que sentem, mesmo vivendo em meio a muitos. O livro é considerado a obra que consagrou Gabriel García Márquez como um dos maiores autores do século 20.
O Mestre e Margarida (1967), de Mikhail Bulgákov
O “Mestre e Margarida” é considerado um dos grandes romances do século 20. Situado na Moscou dos anos 1930, o livro narra as peripécias de satã na cidade, acompanhado de um séquito infernal, composto por um gato falante e fanfarrão, um intérprete trapaceiro, uma bela bruxa e um capanga assustador. Seu caminho se cruza com o dos amantes Mestre e Margarida — ele um escritor mal compreendido, autor de um romance sobre Pôncio Pilatos, ela uma das personagens mais fortes da literatura russa, que, qual Orfeu, fará de tudo para reencontrar seu amado desaparecido. História de amor e desejo, sátira do mundo das letras e das pequenas e grandes vaidades humanas, além de crítica ferina, mas bem-humorada, ao regime soviético. Estima-se que a obra tenha vendido entre 90 e 100 milhões de cópias.
O Apanhador no Campo de Centeio (1951), J.D. Salinger
O livro acompanha um fim de semana da vida de Holden Caulfield, um jovem de 17 anos, estudante de um respeitado internato para rapazes, o Colégio Pencey. Ele é expulso da escola depois de tirar notas ruins, e precisa voltar mais cedo para casa no inverno. Durante o caminho de volta, o rapaz busca adiar ao máximo o encontro com os pais, fazendo uma viagem reflexiva sobre sua existência, a partir de sua peculiar visão de mundo. Antes de enfrentar os pais, ele se encontra com algumas pessoas importantes na sua vida e, junto a elas, reflete sobre as hesitações que se passam em sua mente. Desde seu lançamento, estima-se que o livro tenha vendido mais de 65 milhões de cópias.
Ficções (1944), de Jorge Luis Borges
“Ficções” reúne os contos publicados por Borges em 1941, sob o título de “O Jardim de Veredas que se Bifurcam”, e outras dez narrativas com o subtítulo de “Artifícios”. Nesses textos, o narrador inquisitivo expõe suas conjecturas e perplexidades sobre o universo, retomando motivos recorrentes em seus poemas e ensaios desde o início de sua carreira: o tempo, a eternidade, o infinito. O livro reúne alguns dos textos mais famosos de Borges, como “Funes, o Memorioso”, “A Biblioteca de Babel”, “Pierre Menard, autor do Quixote”, e “As Ruínas Circulares”. Considerado pela crítica especializada uma das obras-primas da literatura latino-americana do século 20, “Ficções” obteve, em 1961, o Prêmio Internacional de Literatura.
Pergunte ao Pó (1939), de John Fante
O livro tem como protagonista Arturo Bandini — alterego de Fante —, um sujeito ítalo-americano vivendo como aspirante a escritor em Los Angeles. Ele mora em um quarto de hotel barato, durante a década de 1930, e passa os dias caminhando pelas ruas, tentando vivenciar experiências que o inspirem a escrever um livro. Com um conto pulicado, Bandini não consegue escrever mais e, além disso, passa por muitas dificuldades financeiras. Mas, arrumar um emprego está fora de seus planos. Arturo Bandini está determinado a viver apenas de literatura, ainda que a realidade seja desanimadora. O livro também aborda a relação conturbada entre Bandini e Camilla, uma garçonete mexicana.
O Grande Gatsby (1925), de F. Scott Fitzgerald
“O Grande Gatsby” é um livro sobre a Era do Jazz nos EUA, os anos prósperos e loucos que sucederam a Primeira Guerra Mundial. Nick Carraway, um jovem comerciante, se torna amigo de seu vizinho, Jay Gatsby, um bilionário conhecido por dar festas animadas em sua mansão, em Long Island. A fortuna de Gatsby é um mistério, nenhum dos convidados das festas sabe detalhes sobre o passado do anfitrião. Um dia, Nick descobre que Gatsby só realiza esses eventos na esperança de que Daisy, sua antiga paixão, compareça a um deles por acaso. Então, o comerciante arranja um encontro entre seu amigo e Daisy. Mas, agora ela está casada com Tom Buchanan, um homem rico que tem muitas dúvidas sobre a honestidade de Gatsby.
Ulysses (1922), de James Joyce
Inspirado na “Odisseia” de Homero, “Ulysses” é ambientado em Dublin, e narra as aventuras de Leopold Bloom e seu amigo Stephen Dedalus ao longo do dia 16 de junho de 1904. Tal como o Ulisses homérico, Bloom precisa superar numerosos obstáculos e tentações até retornar ao apartamento na rua Eccles, onde sua mulher, Molly, o espera. Por meio da descrição pormenorizada de um dia na vida de um grupo de pessoas, tendo o limitado ambiente da Dublin de 1904 como enquadramento, James Joyce consegue apresentar um microcosmo de toda a experiência humana. “Ulysses” é considerado um divisor de águas na literatura, um retrato fiel e comovente do que se convencionou chamar de “o homem moderno”.
A Morte de Ivan Ilitch (1886), de Lev Tolstói
Nesta novela, Tolstói narra a história de Ivan Ilitch, um juiz de instrução que, após alcançar uma vida confortável, descobre que tem uma grave doença. A partir daí, ele passa a refletir sobre o sentido de sua existência e percebe que poucos momentos que viveu realmente tiveram significado e que seu desempenho durante a vida foi superficial, tanto no trabalho quanto nas relações sociais. Preso ao leito, diante da morte iminente, o juiz tem a oportunidade de meditar sobre sua vida, algo que as preocupações corriqueiras o impediram de fazer antes. Ivan Ilitch quer morrer para dar um fim à dor, mas seu instinto de sobrevivência insiste em fazê-lo lutar pela vida.
Grandes Esperanças (1861), de Charles Dickens
“Grandes Esperanças” é centrado em Pip, um órfão criado rigidamente pela irmã num lar humilde e disfuncional. Após herdar inesperadamente uma fortuna, ele rejeita a família e os amigos por se envergonhar da própria origem, e decide se mudar para Londres. Na nova cidade, ele conhece Estella, com quem deseja se casar. No entanto, a mulher rejeita seus sentimentos. Este livro é considerado uma das obras-primas de Charles Dickens (1812-1870). Dividido em três partes, discutindo a bondade, a culpa e o desejo de seus personagens, o romance originalmente foi escrito como um folhetim e publicado na revista literária semanal “All the Year Round”, de propriedade do próprio Dickens, entre 1860 e 1861.
Dom Quixote (1605), Miguel de Cervantes
O livro narra a história do engenhoso fidalgo Dom Quixote e de seu fiel escudeiro Sancho Pança em três incursões pelas terras da Mancha, região de Aragão e da Catalunha, na Espanha. Dom Quixote adora ler histórias de cavalaria e, de tão influenciado por elas, enlouquece e sai em busca de aventuras memoráveis, tentando imitar seus heróis favoritos e levando consigo Sancho Pança, que tem uma visão mais realista dos fatos. O clássico de Miguel de Cervantes é considerado o expoente máximo da literatura espanhola e, em 2002, foi eleito por uma comissão de escritores de 54 países o melhor livro de ficção de todos os tempos.
Hamlet (1603), de William Shakespeare
O Rei Hamlet de Dinamarca acaba de morrer, deixando seu filho, o Príncipe Hamlet, e a viúva Rainha Gertrudes. O irmão do Rei, Cláudio, logo se casa com Gertrudes, assumindo o trono. Certa noite, um fantasma aparece ao príncipe, alegando ser seu pai, e revela que foi morto por Cláudio, que o envenenou. O Príncipe Hamlet passa dias perturbado e recluso, sem saber se deve acreditar no espírito, até que descobre como saber a verdade. Ele monta uma peça de teatro encenando a morte do pai e convida toda a corte para assistir ao espetáculo. Ao ver a reação de Cláudio, que se levanta cambaleante após a cena do assassinato, Hamlet se convence de que o tio é culpado e decide se vingar.
Dados da Aberd (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) apontam que, apenas no ano passado, a imprensa profissional sofreu nada menos do que 11 mil ataques por dia. Mais do que isso, a pesquisa indicou que, de todas as postagens do presidente da República no Twitter, quase 500 delas continham referência críticas ou insinuações a atuação da imprensa no país.
Parece um grande clichê repetir o mantra de que a imprensa livre é um dos pilares da democracia. A liberdade de expressão, consubstanciada na ideia de noticiar os fatos diários, é um valor que, antes de tudo, serve de resguardo para o bom funcionamento das instituições do país. Até mesmo pelas dificuldades enfrentadas em um período recente da história brasileira, qualquer espécie de restrição à imprensa faz ligar o alerta para passíveis acenos autoritários. No Brasil atual, com todos os ataques sofridos diariamente, não seria absurdo pensar que há, no mínimo, um flerte com a criminalização do livre jornalismo. E essa preocupação vai ao patamar mais elevado quando esses atos são institucionais e constantes.
Defender o livre jornalismo é, sobretudo, lutar pelo direito à informação. A liberdade de imprensa, abarca o direito de informar e de ser informado, de criticar e de ser criticado, desde que haja um respeito aos limites anteriores ao sensacionalismo calunioso — o que afeta tão somente a credibilidade do veículo.
O jornalismo oferece um bem público essencial à democracia: a apuração da informação. Infelizmente, a consequência prática natural às revelações da imprensa, são atos deliberados contra a liberdade de expressão. Ataca-se primordialmente o veículo em vez de o fato.
Pois bem. Dados da Aberd (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) apontam que, apenas no ano passado, a imprensa profissional sofreu nada menos do que 11 mil ataques por dia. Mais do que isso, a pesquisa indicou que, de todas as postagens do presidente da República no Twitter, quase 500 delas continham referência críticas ou insinuações a atuação da imprensa no país. Um relatório da entidade Repórteres Sem Fronteiras, corroborando com essa situação, apontou que o presidente ataca os jornalistas uma vez a cada três dias, no que parece constituir uma estratégia deliberada no intuito de descredibilizar os meios de imprensa perante a população.
O período do regime de exceção, pelo qual passou o Brasil, foi marcado pela supressão parcial do direito fundamental à comunicação, com revistas, televisões, jornais e rádios não podendo expor suas opiniões pela implacável censura estatal. De lá para cá, houve um amadurecimento consensual de que o sentido de liberdade de expressão quase que se confunde com o de democracia. Esse exímio respeito, aliás, balizou os ditames constitucionais brasileiros, tornando central o papel da imprensa como verdadeiro poder crítico da República.
Um cristalino indício de ruína de democracias é justamente o tratamento da imprensa como uma inimiga. Criminalizar a atuação de jornalistas é um dos primeiros passos para se caminhar rumo a regimes totalitários. Cenas como as de agressão a repórteres em manifestações, aliadas aos constantes ataques institucionais à imprensa, trazem à tona uma clara tendência ao autoritarismo. Se a atuação de jornalistas incomoda quem exerce o poder, quem deve deixar o cargo que ocupa não são os profissionais da comunicação, mas sim o incomodado. O papel do jornalista é exatamente o de denunciar e investigar. Criminalizar essas atitudes é um claro sinal de que a democracia, para alguns, só existe para aliados e bajuladores. E cada “cala a boca” a um jornalista é, antes de tudo, um grande afago nas trevas.
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Popularizados nos anos 1990, os filmes de ficção científica sempre estão entre as maiores bilheterias do cinema. Para os espectadores que gostam do gênero, a Bula reuniu em uma lista dez filmes disponíveis na Netflix que abordam a possibilidade de viajar no tempo ou se passam em cenários futuristas.
Popularizados nos anos 1990, os filmes de ficção científica e viagem no tempo estão entre as maiores bilheterias do cinema. Alguns já se tornaram grandes clássicos, como “Blade Runner — O Caçador de Androides” (1982) e a trilogia “De Volta para O Futuro” (1985-1990). Para os espectadores que gostam do gênero, a Bula reuniu em uma lista dez filmes disponíveis na Netflix que abordam a possibilidade de viajar no tempo ou se passam em cenários futuristas. Entre os selecionados, destacam-se “Durante a Tormenta” (2019), de Oriol Paulo; e “Sonhos Lúcidos” (2017), dirigido por Jun-sung Kim. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento.
C.J. e Sebastian são dois melhores amigos e estudantes do ensino médio. Muito inteligentes, eles são obcecados por viagens no tempo e possibilidades científicas. Quando o irmão mais velho de C.J. é assassinado injustamente pela polícia, os dois constroem uma máquina para voltar no tempo e tentar evitar a tragédia. Mas, eles têm apenas dez minutos para cumprir essa missão.
Durante a Tormenta (2019), Oriol Paulo
Uma intensa tempestade causa interferência entre dois tempos paralelos: 1989 e o presente. Ao adentrar no passado, a enfermeira Vera salva a vida de uma criança que morou na mesma casa que ela, em 1989, e estava destinada a morrer. Mas, ao mudar o destino do garoto, Vera também altera a própria vida. Com o fim da tempestade, ela volta ao presente. Mas, nessa nova realidade, ela não conhece seu marido e nunca teve sua filha.
Quando Nos Conhecemos (2018), Ari Sandel
No dia em que conheceu Avery, há três anos, Noah se apaixonou rapidamente. Mas, por não ter coragem de se declarar, acaba sendo considerado apenas um grande amigo por ela. No dia do noivado de Avery, desesperado por mais uma chance, ele volta ao lugar onde se encontraram pela primeira vez. Lá, Noah terá a chance de voltar no tempo e fazer de tudo para ficar com Avery.
Onde Está Segunda? (2017), Tommy Wirkola
Em 2073, os recursos naturais da Terra estão escassos e o consumo de alimentos geneticamente modificados aumentou subitamente o nascimento de gêmeos. Com o planeta superlotado, os casais passam a ser fiscalizados e não podem ficar com mais de um filho. Mas, Terrence consegue salvar a vida de suas sete netas gêmeas, fazendo com que elas se revezem nos dias da semana, usando o nome da mãe que morreu no parto. Tudo vai bem até que uma delas desaparece misteriosamente.
Sonhos Lúcidos (2017), Jun-sung Kim
Dae-ho, um jornalista investigativo, faz de tudo para rastrear o paradeiro de seu filho, que foi raptado há três anos. Como uma de suas últimas tentativas, Dae-ho decide tentar encontrar o filho por meio da técnica dos sonhos lúcidos. Com a ajuda de uma psiquiatra, ele consegue invadir a memória e os sonhos de outras pessoas para descobrir o que realmente aconteceu no dia do sequestro.
Passageiros (2016), Morten Tyldum
A nave Avalon transporta mais de 5 mil viajantes para o planeta Homestead II, uma viagem que leva 120 anos. Todos estão acoplados em compartimentos de hibernação. A passagem por um grande campo de asteroides causa um mau funcionamento e acorda dois passageiros 90 anos antes do tempo programado: o engenheiro mecânico Jim Preston e a escritora Aurora Lane. Mesmo preocupados por saberem que irão morrer antes do fim da viagem, eles se apaixonam e se tornam amantes.
Lucy (2014), Luc Besson
Lucy, uma jovem americana que vive em Taiwan, é obrigada pela máfia a contrabandear uma nova droga sintética, cirurgicamente implantada em seu estômago. O corpo de Lucy começa a absorver a substância e ela desenvolve poderes sobre-humanos, como telepatia, telecinesia e a ausência de dor. Lucy foge para tentar salvar a vida das outras mulheres que também transportavam a droga. Enquanto isso, ela é perseguida por Jang, o líder da máfia.
O Homem do Futuro (2011), Claudio Torres
João, conhecido como Zero, é um dos cientistas mais aclamados do Brasil, mas vive infeliz por ter sido abandonado por sua grande paixão, Helena, há 20 anos. Trabalhando em um de seus inventos, ele consegue construir uma máquina do tempo. Zero decide voltar à época da faculdade para reconquistar Helena, mas as mudanças acabam interferindo em acontecimentos do futuro. Agora, ele precisa voltar no tempo novamente para resolver sua vida sem perder Helena.
Secret (2007), Jay Chou
Xiang Lun é um prodígio como pianista e acaba se ser transferido para uma prestigiada escola de arte e música. Em seu primeiro dia de aula, caminhando pelo campus, ele ouve uma bela melodia em um dos prédios. Intrigado, ele procura quem está tocando, até se deparar com Lu Xiaoyu, outra estudante de piano. Xiang Lun se encanta com o talento da colega e se apaixona por ela. Mas, Lu Xiaoyu começa a faltar as aulas e ele tenta descobrir o que ela está escondendo.
Quem olha para o sucesso da linha de calçados Air Jordan hoje, mal pode imaginar que a Nike não foi a primeira, nem a segunda opção de Michael, mas sim a última na hora de escolher quem ia levar o seu nome. Saiba mais sobre o documentário “Arremesso Final” sobre a vida de Michael Jordan […]
Um dos compositores mais celebrados da música brasileira, Aldir Blanc ficou conhecido pelas canções escritas em parceria com João Bosco, como “O Bêbado e o Equilibrista”. Para homenagear o artista, que morreu aos 73 anos, vítima da Covid-19, a Bula reuniu em uma playlist 21 músicas fundamentais para quem deseja conhecer a obra dele.
Um dos compositores mais celebrados da música brasileira, Aldir Blanc ficou conhecido pelas canções escritas em parceria com João Bosco, como “O Bêbado e o Equilibrista”. Nascido em 1946, no Rio de Janeiro, ele se formou em medicina, mas abandonou a profissão, em 1973, para dedicar-se exclusivamente à música.
Nessa época, ele já tinha emplacado sua primeira composição de sucesso, “Amigo é Pra Essas Coisas”, parceria com Sílvio da Silva Jr., que foi premiada com o segundo lugar no Festival Universitário de 1970. Posteriormente, juntou-se a outros compositores, como Ivan Lins e Gonzaguinha, para criar o Movimento Artístico Universitário (MAU).
Em 1972, a célebre Elis Regina escolheu pela primeira vez uma canção de Aldir Blanc e João Bosco para integrar um de seus discos: “Bala com Bala”. Desde então, passou a receber as composições dos autores em primeira mão e a parceria dos três se eternizou em outras músicas, como “O Caçador de Esmeralda”, “Cabaré”, “O Mestre-Sala dos Mares”, “Caça à Raposa” e “O Bêbado e o Equilibrista”, a mais aclamada.
Aldir Blanc e João Bosco se afastaram em 1982, sem brigas, segundo os dois. Blanc também fez parcerias de sucesso com outros artistas, como Guinga, Cristóvão Barros, Ivan Lins e Moacyr Luz. Além disso, o compositor também era cronista e publicou 11 livros ao longo de sua vida. Ele morreu no dia 4 de maio de 2020, aos 73 anos, vítima da Covid-19.
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O delegado do Dops Cláudio Antonio Guerra admite, no livro “Memórias de uma Guerra Suja” (Topbooks, 291 páginas), depoimento colhido pelos repórteres Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que matou e incinerou várias pessoas, relata casos de torturas contra presos políticos, faz revelações sobre a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, conta que os homens do porão mantinham ligações com artistas, inclusive da TV Globo, indica que o Ministério Público Federal compactuou com a violência do regime.
Fotografia: José Cruz/Agência Brasil
Delegado do Dops revela que queimou militantes da esquerda numa usina de açúcar, articulou uma tentativa de assassinar Brizola e Gabeira, afirma que a ditadura usou e matou Sérgio Fleury
O delegado do Dops Cláudio Antonio Guerra admite, no livro “Memórias de uma Guerra Suja” (Topbooks, 291 páginas), depoimento colhido pelos repórteres Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que matou e incinerou várias pessoas, relata casos de torturas contra presos políticos, garante que, orientado sobretudo pelo coronel Freddie Perdigão Pereira, do Serviço Nacional de Informações (SNI), tentou assassinar Leonel Brizola e Fernando Gabeira, faz revelações sobre a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, conta que os homens do porão mantinham ligações com artistas, inclusive da TV Globo, indica que o Ministério Público Federal compactuou com a violência do regime. A obra ganhou repercussão internacional. O correspondente Mac Margolis, da revista americana “Newsweek”, publicou longo comentário a respeito. O jornalista Pedro Pomar, editor da “Revista Adusp” e doutor em ciências da comunicação, afirma que o livro aparentemente contém mais “verdades” que “problemas”. Alberto Dines, que morreu em 2018, escreveu, no “Observatório da Imprensa”: “Este caso precisa ser acompanhado ao vivo. Sem câmeras ocultas, sem sigilo, sem vazamentos. Este horror made in Brazil precisa ser escancarado. Imediatamente, em detalhes.
Como aconteceu com o Tribunal de Nuremberg — que julgou os crimes cometidos pela cúpula nazista —, este caso exige trâmites especiais. Está em jogo não apenas a imagem do País e de suas instituições. Nossa alma precisa desta catarse para viver em paz”. O historiador Luís Mir, autor de “A Revolução Impossível” (Best Seller, 756 páginas), é uma voz destoante: “Este livro é falso, farsesco, mentiroso da primeira à última página. O atentado contra o ‘Estadão’ foi feito pela O, Organização, que era como se denominavam à época os sargentos remanescentes do MNR que iriam fundar a VPR. Estão identificados os quatro autores, quem colocou a bomba, quem deu apoio no segundo carro. Esse livro é canalhesco. Nada, absolutamente nada do que esse esquizofrênico afirma, tem qualquer ranço mínimo de credibilidade”. É a primeira voz de um historiador das esquerdas que denuncia as versões do delegado. O volume de informações, com detalhes precisos, sugere que, pelo menos, se deve considerar o depoimento de Cláudio Guerra como ponto de vista para novas investigações históricas. O delegado seria um mini-Eichmann dos trópicos? Se verdadeiro, teríamos de admitir que o coronel Freddie Perdigão seria Heinrich Himmler. Os dois não têm, porém, a “dimensão” histórica dos personagens alemães nem a ditadura civil-militar brasileira pode ser equiparada, em poder e crueldade, ao nazismo. O delegado não é citado nos livros publicados sobre torturas e assassinatos entre 1964 e 1985 — daí, possivelmente, o estranhamento dos leitores e, sobretudo, dos jornalistas e acadêmicos.
Quem sabe, o depoimento do policial indique, mais do que tudo, que ainda se sabe menos do que se pensa sobre as atividades do porão, ou porões, durante os governos de Castello Branco, Costa e Silva, Emilio Garrastazú Medici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Os porões eram menos porões do que se pensa, quer dizer, eram praticamente unidades oficiais?
Na introdução do livro, Rogério Medeiros assinala, talvez com certo exagero: “Sua competência [de Cláudio Guerra], em matéria de execução e de estratégia, o levaria logo à condição de principal lugar-tenente de Freddie Perdigão, cérebro e ideólogo do sistema de repressão da comunidade de informações [um dos problemas do livro talvez seja a apresentação de Freddie Perdigão como o “chefão”, como se as forças armadas não tivessem generais, só coronéis]. Devido ao êxito de sua trajetória, Cláudio Guerra alcançaria, em pouco tempo, o lugar de estrategista do escritório do SNI no Rio de Janeiro”. O depoimento em si sugere que Cláudio Guerra era mais “executor” de ordens do que “estrategista”. O estrategista, se havia um, era Freddie Perdigão e o delegado afirma que o coronel comandava várias equipes. Um grupo não sabia o que o outro estava fazendo, mas Perdigão era o mestre dos cordões de todos eles, e não o serial killer do Dops. Fica-se com a impressão de que Cláudio Guerra tem inveja de Sérgio Fleury e quer se apresentar como o Fleury que deu certo e havia sido, pelo menos até há pouco, leal aos chefes militares. É possível concluir que os integrantes da Polícia Civil tinham escassa autonomia e eram subordinados aos militares.
Pastor evangélico, Cláudio Guerra decidiu abrir o baú de suas memórias, assim como uma filha do general Antônio Bandeira, um dos primeiros combatentes da Guerrilha do Araguaia, abriu o baú do pai, há algum tempo, para o jornal “O Globo”.
Freddie Perdigão
Cláudio Guerra atraiu a atenção dos militares da linha dura, como o coronel Freddie Perdigão, do Exército e do SNI (Serviço Nacional de Informações), e o comandante Antônio Júlio Vieira, do Cenimar (Centro de Informações da Marinha), porque era um dos matadores do esquadrão da morte da Polícia Civil do Espírito Santo. O delegado está envolvido em pelo menos 100 assassinatos — entre criminosos comuns e militantes das esquerdas. “Guerra começou a eliminar esquerdistas no início de 1973”, informam Marcelo Netto e Rogério Medeiros. O primeiro contato entre o delegado e os dois militares, intermediado pelo procurador da República Geraldo Abreu, ocorreu no final de 1972. Durante 15 anos, o policial civil e os dois militares atuaram juntos. “No início dos anos 1980, Guerra foi o mais ativo executor de atentados contra a redemocratização do Brasil.” O objetivo dos militares e policiais era impedir a redemocratização.
Cláudio Guerra divide seu trabalho em duas etapas. Primeiro, como executor “dos inimigos do regime militar”. “Eu era convocado e matava.” Segundo, tornou-se, nas suas palavras, “estrategista” e “braço direito dos coronéis linha dura”. Ele passou a ser chamado para as “discussões secretas”. Há quem diga, nos meios militares, que os homens do porão não tinham autorização “total” das chefias militares e políticas. Não é o que parece, a se aceitar o depoimento do delegado. Militares e policiais reuniam-se em locais públicos, como o restaurante Angu do Gomes, no Rio de Janeiro, e no Baby Beef, em São Paulo, e nas repartições públicas do governo, como delegacias e quartéis. Se não sabiam o que a “tigrada” fazia, torturas e assassinatos, os comandantes militares e o governo eram “incompetentes” e “mal informados” — o que não eram.
Linguagem seca
Marcelo Netto e Rogério Medeiros transcrevem o depoimento de Cláudio Guerra com a crueza que o caso exige, sem “amaciar” a linguagem.
Em abril de 1973, o sargento Jair, o tenente (da PM) Paulo Jorge (Pejota), Fininho (o policial civil Adhemar Augusto de Oliveira), da equipe de Sérgio Fleury, e Cláudio Guerra mataram Ronaldo Mouth Queiroz, da ALN. No mesmo mês, Freddie Perdigão convocou Cláudio Guerra para simular que Merival Araújo, da ALN, havia sido morto numa troca de tiros com as forças do governo. “Eu dei o tiro que matou o guerrilheiro Emanuel Bezerra dos Santos”, conta o delegado. Mais um militante do Partido Comunista Revolucionário, Manoel Lisboa de Moura, foi assassinado. O fato ocorreu em setembro de 1973. Em Recife, o delegado matou Manoel Aleixo da Silva, do PCR.
Em outubro de 1973, policiais e militares mataram Ranúsia Alves Rodrigues e três militares do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Vale e Vitorino Alves Moitinho. “Foi [Freddie] Perdigão que fez questão de acabar com ela [Ranúsia], a tiros. E ria enquanto atirava. Ria alto”, garante Cláudio Guerra. Conta o delegado: “Foi em Belo Horizonte [em abril de 1975]. Nestor Veras [do comitê central do Partido Comunista Brasileiro, PCB] tinha sido muito torturado e estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade, dois, um no peito e outro na cabeça”. Tempo de Ernesto Geisel na Presidência da República.
Os homens do porão não matavam apenas esquerdistas. O policial civil Mariel Mariscot, que havia pertencido à Scuderie Le Cocq, foi executado a pedido de Freddie Perdigão como “queima de arquivo”. Mariel Mariscot havia trabalhado para o SNI. Mas os militares não conseguiam mais controlá-lo. Ismael Veríssimo, ligado a bicheiros, foi morto a pedido de militares. O livro mostra que, quando o governo conseguiu segurar a tigrada, o jogo do bicho passou a sustentá-la.
Atores e a ditadura
“Memórias de uma Guerra Suja”, conta que os militares do porão articulavam no restaurante Angu do Gomes, no Rio de Janeiro. Lá, com anuência dos proprietários, o coronel Freddie Perdigão e o comandante Antônio Vieira “decidiam” os caminhos da repressão e quem ia morrer.
“O Angu do Gomes fazia parte de um complicado esquema que arrecadava fundos para as nossas atividades. Ali aconteceram vários encontros da nossa irmandade, manipulados habilmente pelo coronel Freddie Perdigão. Ali conspiramos contra [o presidente Ernesto] Geisel, Golbery [do Couto e Silva] e [João] Figueiredo. No restaurante foram planejados assassinatos comuns e com motivações políticas, e discutidos os vários atentados a bomba que tinham como objetivo incriminar a esquerda e dificultar, ou impedir, a redemocratização do País”, historia o livro.
Há informações sobre contatos de atores com figuras da repressão, infelizmente mal exploradas por Cláudio Guerra e pelos repórteres. O ator Lúcio Mauro, da TV Globo, “participava dos encontros” com militares e chegava a cozinhar para eles. O delegado não avança sobre qualquer relacionamento mais sério entre o humorista e a ditadura. O ator Jece Valadão “saía em operações” com os policiais, mas não em missões políticas. “Gostava de ver a execução de bandidos e Mariel Mariscot o levava.” Carlos Imperial, Oswaldo Sargentelli, Ciro Batelli e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, frequentavam o Angu do Gomes. Batelli seria ligado aos bicheiros Castor de Andrade e Ivo Noal. Os bicheiros apoiavam, com logística e dinheiro, as ações dos homens do porão.
Ernesto Geisel e João Figueiredo: no governo dos dois generais, que defendiam a Abertura, o governo, usando radicais da linha dura e policiais civis, mataram líderes e militantes da esquerda
O apresentador de TV Wagner Montes também mantinha ligações com os homens do porão, notadamente àqueles ligados ao delegado Fleury, como Fininho, Joe e Mineiro. “Eram inseparáveis.” O cantor, ator e comediante Moacir Franco também “cooperava”.
Curiosamente, ao resenhar o livro, a maioria das publicações ignorou as ligações dos atores, jornalistas e jornais com militares ligados à tortura de militantes da esquerda. Cláudio Guerra declara: “A ‘Folha de S. Paulo’ apoiou informalmente as ações da Oban. Os carros que distribuíam jornais eram usados em campanhas pela prisão de comunistas. Esses carros eram muito úteis porque disfarçavam bem, ninguém suspeitaria que membros da Oban estivessem ali dentro preparados para agir”. Os repórteres Marcelo Netto e Rogério Medeiros apressam-se, numa nota de rodapé, a defender o jornal: “A direção da ‘Folha’ sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para isso”. Na verdade, Octávio Frias de Oliveira, o falecido publisher, admitiu, sim, que o uso dos veículos é um fato, mas garantiu ao filho, Otavio Frias Filho, que não tinha participação pessoal nenhuma com os militares. A história está registrada na biografia de Frias pai e no livro “História da Imprensa Paulista”, de Oscar Pilagallo. Supostamente, não havia como reagir. Mas os carros do “Estadão” não foram utilizados.
Outra história não mereceu registro nas resenhas: “A bomba que explodiu na casa do dono das Organizações Globo foi, na verdade, parte de uma estratégia formulada por ele mesmo — Roberto Marinho. Foi simulado. A ordem partiu do coronel Perdigão, e eu mesmo coloquei a bomba, mas tudo foi feito a pedido do empresário, para não complicá-lo com os outros veículos de comunicação, para se defender da desconfiança de suas relações com os militares. Para todo mundo ele foi a vítima. Roberto Marinho estava ficando muito visado pela esquerda e pela própria imprensa. Achavam que ele apoiava a ditadura”. Cláudio Guerra contou com o apoio do sargento Jair, de um tenente e do policial civil Zé do Ganho.
Guerrilheiros incinerados
Cláudio Guerra conta que, a partir de 1973, alguns militares começaram “a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina”. O delegado do Dops revela que “a primeira tentativa foi a de um intercâmbio de cadáveres. A equipe do Rio passou a despachar os corpos para São Paulo e vice-versa. Mas isso não foi suficiente para manter a discrição no ocultamento dos corpos”. Ao discutir o assunto com o coronel Freddie Perdigão e com o comandante Antonio Júlio Vieira, o mini-Eichmann dos trópicos sugeriu que usassem os fornos da usina de açúcar Cambahyba, do ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro Gomes, político de extrema direita ligado à Tradição, Família e Propriedade (TFP), e disse “que enterrar corpos em cemitérios clandestinos ou jogá-los ao mar — operação comandada pelo Cenimar — já eram técnicas manjadas, que não tinham a eficácia de antes”.
Com a ajuda de dois funcionários da usina, Zé Crente e Vavá, os corpos de esquerdistas passaram a ser incinerados. “A Usina Cambahyba foi muito usada para este fim [destruir pessoas] nas décadas de 1970 e 1980. (…) Fui responsável por levar dez corpos de presos políticos para lá, todos mortos pela tortura no DOI e na Casa da Morte, em Petrópolis, além dos cadáveres provenientes do DOI da Barão de Mesquita e os que vinham de São Paulo. (…) Também lá na usina matei e desapareci com o corpo do tenente Odilon [Carlos de Souza].” Este foi morto como queima de arquivo.
No livro, Cláudio Guerra cita dez corpos, mas, ao visitar a usina com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay, advogado de José Dirceu e outros próceres da República) e o jornalista Marcelo Netto, depois do lançamento do livro, lembrou-se de outro guerrilheiro incinerado, Armando Teixeira Frutuoso, no forno da usina de açúcar em Campos dos Goytacazes. Ele listou todas as pessoas que levou para serem incineradas.
Os corpos de João Batista Rita e Joaquim Pires Cerveira (foram presos na Argentina, possivelmente pela Operação Condor), mortos na tortura pela equipe do delegado Sérgio Fleury, foram entregues a Cláudio Guerra no final de 1973. Em abril de 1974, o casal Ana Rosa Kucinski — irmã do jornalista e professor universitário Bernardo Kucinski — e Wilson Silva foi preso, torturado e morto pela equipe de Fleury. Cláudio Guerra e o sargento Levy pegaram os corpos na Rua Barão de Mesquita e levaram para a usina. “Os dois estavam completamente nus. A mulher apresentava muitas marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente. O jovem não tinha as unhas da mão direita. Tudo levava a crer que tinham sido torturados. Não havia perfuração de bala neles”, relata o delegado.
A história sobre David Capistrano da Costa, de 61 anos, não difere do que é narrado no livro “Sem Vestígios — Revelações de um Agente Secreto da Ditadura Militar Brasileira” (Geração Editorial, 239 páginas), de Taís Morais, uma das mais bem informadas jornalistas sobre o que aconteceu nos porões da ditadura. O eleitor que escandalizar-se com o que mostra Cláudio Guerra vai ficar ainda mais impressionado com o que explicita Taís Morais. Elio Gaspari, em “A Ditadura Derrotada” (Companhia das Letras, 538 páginas), também relata o desaparecimento de Capistrano, que havia lutado na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa, e José Roman, na cidade de Uruguaiana. “Walter de Souza Ribeiro, David Capistrano e José Roman foram levados para a casa que o CIE mantinha em Petrópolis. Esquartejaram-nos”, diz Gaspari.
Taís Morais, baseada em “documentos” do agente do Exército Joaquim Artur Lopes de Souza, o Carioca, revela que Capistrano foi capturado pelo tigrada da Operação Bandeirantes (Oban). Carioca e outro agente levaram o preso para São Paulo e, de lá, para Petrópolis. À noite, esquartejaram o líder do PCB. O relato da jornalista: “Lentamente, [Carioca] levantou a cabeça em direção a algo pendurado em ganchos. A princípio não distinguiu bem o que era. Um tronco, dividido ao meio. As costelas de Capistrano pendiam do teto, e ele, reduzido a pedaços como se fosse uma carcaça de animal abatido, pronta para o açougue”. Depois, “retiraram tudo e colocaram em sacos plásticos, que imediatamente levaram até o porta-malas de um carro de passeio recém-estacionado na porta do matadouro”. Em seguida, os militares que mataram e esquartejaram Capistrano comeram bifes fritos.
Carioca não menciona os nomes das pessoas que buscaram o corpo de Capistrano, mas sua história coaduna com a de Cláudio Guerra. O delegado levou os pedaços de Capistrano e João Massena Melo (Mello, no livro Elio Gaspari) da Casa da Morte, em Petrópolis, para incinerar na usina de Campos dos Goyatacazes. “Um deles [Massena] me marcou muito, porque lhe haviam arrancado a mão direita. Ela estava dentro do saco, perto do corpo, resultado de tortura impiedosa. O outro homem parecia ter sido mais torturado. Era David Capistrano. A Casa da Morte era para onde iam as pessoas mais importantes.”
Os corpos de José Roman, do PCB, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, Eduardo Coleia Filho, ambos da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), e Luiz Ignácio Maranhão Filho, do PCB, foram incinerados na usina Cambahyba. O dono da usina, Heli Ribeiro, ex-vice-governador do Rio de Janeiro, recebeu benefícios fiscais e financeiros do governo federal. O que sugere que a turma do porão não agia isoladamente, sem apoio de cima. O coronel Perdigão, o doutor Nagib, chegou a mandar Cláudio Guerra sabotar as usinas da região.
Na Casa da Morte, o cabo Félix Freire, apontado como o doutor Magno, “não só matava e serrava os mortos como punha um ácido para acabar com os corpos”, relata Cláudio Guerra. “Depois os enterrava, sem chances para a perícia conseguir identificá-los.” Freire contesta as informações do ex-sargento Marival Chaves, agora confirmadas pelo delegado do Dops. Mas, no livro, o próprio Cláudio Guerra não cita Freire. O nome é apontado pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros.
Cláudio Guerra revela que, além dos cemitérios tradicionais nos quais militantes da esquerda eram enterrados como indigentes, havia pelo menos mais quatro cemitérios clandestinos. Um ficava em Petrópolis, onde havia outra casa. “A Casa da Morte era um aparelho de tortura, enquanto essa outra era o cemitério clandestino. Temos então, segundo Perdigão, duas casas da morte.” O ex-policial civil Josmar Bueno, Joe, da equipe do delegado Fleury, “tinha um sítio que servia para enterrar corpos dos torturados pelo Dops, em São Paulo”. Joe é juiz de boxe e amigo do ex-boxeador Maguila. O terceiro cemitério fica em Minas Gerais. Sobre o quarto cemitério: “Ajudei a atirar corpos por um penhasco da Floresta da Tijuca. Nesse local foram jogados presos políticos apanhados no DOI-Codi da Barão de Mesquita, na Tijuca”.
Massacre da Lapa
Há livros esclarecendo o massacre da cúpula do PC do B, em 1976, mas Cláudio Guerra, em “Memórias de uma Guerra Suja”, apresenta nuances. “A Chacina da Lapa foi realmente uma chacina. Eles estavam desarmados. Pejota [tenente Paulo Jorge, da PM] matou [Ângelo] Arroyo, e [o delegado Sérgio] Fleury, [Pedro] Pomar. (…) Ficamos esperando o revide, algum disparo do lado de dentro da casa. Não houve.” Pomar estava com as mãos para cima e, mesmo assim, Fleury o matou “com dezenas de tiros de metralhadora. Não havia armamento no interior da casa, mas, para sustentar a versão de troca de tiros, a equipe de Fleury colocou armas nas mãos dos cadáveres.” O comunista João Baptista Franco Drummond foi morto pela equipe de Fleury, que, depois, simulou um atropelamento. Isto aconteceu no governo de Ernesto Geisel.
Freddie Perdigão, que contava com informações passadas por Jover Telles, que, para sobreviver, havia traído os camaradas, articulou a invasão do aparelho do partido, onde ocorreria uma reunião do Comitê Central do PC do B. Participaram da operação os coronéis Freddie Perdigão e Ênio Pimentel da Silveira, o doutor Ney, e a equipe de Fleury. A cúpula que liderava as ações “sujas” do porão militar.
O trabalho mais qualificado sobre o assunto é “Massacre na Lapa — Como o Exército Liquidou o Comitê Central do PC do B” (Perseu Abramo, 200 páginas), de Pedro Estevam da Rocha Pomar.
Matar Brizola e Gabeira
Parte dos militares que organizaram o golpe de 1964 tinha fixação no político gaúcho Leonel Brizola. Alguns cogitaram matá-lo, inclusive planejando derrubar um avião no qual estaria. Em “Memórias de uma Guerra Suja”, o delegado Cláudio Guerra declara: “O coronel Perdigão e o comandante Vieira me escalaram para matar Leonel Brizola”.
Como Brizola havia ficado com o dinheiro de Fidel Castro — que teria chamado o brasileiro de “el ratón” —, o crime seria atribuído aos cubanos. “O interesse maior partia do Cenimar, órgão de informação da Marinha; o comandante Vieira queria Brizola morto, me disse Perdigão, e pediu para planejar o atentado. Eu o idealizei e fui executar”, garante Cláudio Guerra.
O delegado do Dops hospedou-se no Hotel Apa, na Rua República do Peru, vestiu uma batina — para “implicar a Igreja Católica” (estranhamente, antes era para atribuir o crime aos cubanos) —, subiu na garupa de uma motocicleta, dirigida pelo tenente Molina (o doutor Ney dava cobertura, de carro), e postou-se na porta do edifício no qual morava Brizola. Só que o líder político gaúcho não saiu de casa no dia e escapou. A notícia vazou e o general Golbery do Couto e Silva “acabou com a história”.
A história da tentativa de assassinato do jornalista Fernando Gabeira é inédita. O coronel Freddie Perdigão levou um tiro, supostamente em combate, e culpava Gabeira (que, ao ser preso, não deu nenhum tiro, revelou aos repórteres que colheram o depoimento do delegado). Por isso, depois da Anistia, “estava obcecado em eliminar Gabeira”.
Perdigão seguia os passos de Gabeira, que não desconfiava de nada. O coronel “conseguiu a informação de um voo que ele pegaria a partir do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para o Santos Dumont, no Rio de Janeiro. (…) Eu e Jacaré fomos escalados, pelo Perdigão, para colocar uma bomba nesse avião”.
No aeroporto, os agentes da ditadura perceberam que crianças e idosos estariam no voo, mas não viram Gabeira, então abortaram a missão. Perdigão, alertado de que a operação era uma loucura, disse que estava “decepcionado” com Cláudio Guerra e Jacaré.
Morte de Fleury
No livro “Brasil: De Castello a Tancredo” (Paz e Terra, 608 páginas, tradução de Mário Salviano Silva), o brasilianista Thomas Skidmore escreve: “A morte de [Sérgio] Fleury atendia muito convenientemente ao plano de [João] Figueiredo de prosseguir com o projeto de Abertura”. No livro “A Ditadura Derrotada” (Companhia das Letras, 538 páginas), o jornalista Elio Gaspari conta que o general Golbery do Couto e Silva disse para o presidente Ernesto Geisel: “Nós não vemos esse Fleury. Eu vou dar crédito a um sujeito desses, que é um bandidaço sem-vergonha. Não, tenha paciência”. Depois, Gaspari relata: “O general [Golbery do Couto e Silva] queria também tirar o delegado Sérgio Fleury de cena. (…) Geisel concordava com o afastamento do delegado”. Golbery disse ao secretário particular do presidente Geisel, Heitor Aquino Ferreira: “Mas tira esse homem para fora. Bota esse homem em férias, manda ele passear na China. Aliás, o chefe está de acordo nisso. […] É uma burrice ter esse homem aí, à vista de todo mundo”. Heitor Ferreira replicou: “Manda ele fazer um curso na França. Com esse nome: Fleury”. Golbery retrucou: “É, mas talvez ele não possa se afastar, porque está sub judice. Manda ele para Foz do Iguaçu. Tem um negócio onde criam jacaré, manda ele tomar banho lá. Esse é bandido. Esse é um bandido. Agora, prestou serviços e conhece muita coisa”.
Noutro livro, “A Ditadura Escancarada” (Companhia das Letras, 507 páginas), Gaspari escreve: “A associação de oficiais das Forças Armadas com a bandidagem da polícia na construção de um sistema de repressão baseado na tortura foi produto da incompetência. Não era inevitável. (…) O delegado Sérgio Fleury não ficou parecido com um oficial do Exército. Eram oficiais do Exército que ficavam parecidos com ele”. Na verdade, era chefiado pelos militares.
“Autópsia do Medo — Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos Fleury” (Globo, 650 páginas), do jornalista Percival de Souza, é o livro mais completo sobre o chefão do Dops e da tortura. Conta, por exemplo, que ele namorou a irmã do jornalista Raimundo Rodrigues, Leonora Rodrigues, e que o ex-presidente da UNE, Tarzan de Castro, teve uma “fuga arranjada” e “colaborou” com a ditadura. “Foi um dos primeiros infiltrados nas organizações subversivas” (página 384), registra Percival. Tarzan nega e disse que iria processar Percival.
Percival fala da morte de Fleury, registrando as várias versões. Cláudio Guerra, em “Memórias de uma Guerra Suja”, conta que o delegado foi assassinado por um comando civil-militar. Sua morte foi articulada, no Baby Beef, em São Paulo, pelos homens do porão: coronel Ênio Pimentel da Silveira (doutor Ney), coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva (que contesta a versão), coronel Brilhante Ustra, coronel Freddie Perdigão, o comandante Antonio Vieira, o delegado Aparecido Laertes Calandra e Cláudio Guerra.
Fleury, na versão de Cláudio Guerra, “não respeitava a autoridade dos coronéis, era vaidoso e tinha uma ambição exagerada; não aceitava comando, fazia tudo por conta própria e usava o poder para obter vantagens pessoais, dinheiro, fama. E mexia com drogas” [sobre o uso de cocaína, o brasilianista Skidmore destaca: “Comentava-se que ele era viciado, e com seu trabalho policial tinha acesso aos narcóticos”]. O certo é que a autonomia de Fleury era relativa e ele estava subordinado a miliares.
Ao ser preso, Fleury teria dito: “Se eu cair, cai todo mundo. Vou falar de todos e de tudo que aconteceu”. Segundo Cláudio Guerra, “no final dos anos 1970, Fleury tinha se tornado um homem rico, desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria. Os militares da linha dura lhe tiraram o apoio”.
Os militares doparam Fleury, que bebia muito, em Ilhabela, em 1979. “Depois Fleury ainda levou, de um homem de sua confiança, uma pedrada na parte de trás da cabeça, caiu no mar e, logo depois, morreu.” Percival contesta a versão e sustenta que não havia machucado na cabeça do delegado.
Cláudio Guerra garante que outros agentes da repressão foram mortos, alguns “se mataram” e alguns enlouqueceram.
Bancos e empresas
A Operação Bandeirantes (Oban) era financiada por empresários e o delegado Cláudio Guerra escancara os nomes das empresas e bancos. “Eram dois os bancos que apoiavam nossas operações: o [Banco] Mercantil de São Paulo [S/A] e o Sudameris. No início, financiavam o combate à esquerda armada, mas depois custearam as operações com bombas e os atentados para impedir a redemocratização do país”, revela o policial.
Os policiais e militares recebiam dinheiro dos empresários e banqueiros. “Havia dois tipos de movimentação. A regular, oficial, em que circulava o dinheiro que vinha da atividade como servidor público, seja da polícia ou do Exército; e a extraoficial, que era a remuneração pelas atividades clandestinas que mantínhamos. Nesse caso, recebíamos por codinomes.”
Cláudio Guerra diz que o dono do Mercantil, Gastão Eduardo de Bueno Vidigal, era o “mentor, arrecadador e financiador das operações clandestinas” dos militares e policiais civis. “A maioria dos policiais, inclusive Perdigão, recebia pelo Mercantil. (…) O coronel Perdigão recebia como doutor Flávio; o general Nilton Cerqueira também recebia lá. O Fleury, em São Paulo. (…) Dinheiro nunca faltava.”
O dono da Viação Itapemirim, o capixaba Camilo Cola, “foi um grande apoiador das nossas ações clandestinas. Muito próximo do coronel Perdigão, ele arrecadava recursos entre grandes empresas, como a Gasbrás e a White Martins, e levava em mãos para o coronel”, relata Cláudio Guerra. O delegado revela que mais tarde, com a redemocratização consolidada, o coronel Perdigão mandou matar, a pedido de Camilo Cola, o jornalista José Roberto Jeveaux. Nada tinha a ver com política. Era pistolagem pura.
O bicheiro Ivo Noal “foi um dos que mais arrecadaram para as operações clandestinas do delegado Fleury”. O Mappin, de Alberto e Cosette Alves, também colaborou, segundo Cláudio Guerra, com fundos para a repressão. “No tempo dos militares, eles financiavam as operações do Fleury?”
O agente da CIA
A CIA atuou ao lado dos homens do porão na ditadura? O delegado do Dops Cláudio Guerra diz que pelo menos um agente da CIA, que não torturava nem matava, trabalhou com os militares. Jone Romaguera Trotte, o suposto agente, repassava armas para o policial. “A principal função dele era trazer armamento. Fazia isso para a Polícia Federal, para o SNI, para muitas de nossas operações clandestinas. (…) Tudo com o conhecimento do comandante [Antonio Júlio] Vieira, do coronel [Freddie] Perdigão e do delegado da Polícia Federal Cláudio Barrouin.”
Romaguera Trotte “fornecia também material de escuta, dispositivos que ainda não existiam no Brasil; trazia pessoal preparado para dar treinamento, além de substâncias ilegais. (…) O esquema de entrada de armas no país envolvia alguns pilotos da Varig. Um dos pilotos era irmão de um famoso ator da Rede Globo”.
A conta do agente da CIA era no Banco Itaú. “O pagamento das armas importadas por ele era feito nesse banco.” Jone contou que era cubano naturalizado americano. Era ligado ao coronel Perdigão e, sobretudo, ao delegado Barrouin.
Cláudio Guerra diz que Romaguera Trotte planejou matá-lo, mas o plano furou. Paranoia? É possível. Militares disseram à época do lançamento do livro que o delegado “não estaria bom da cabeça” e que estaria “delirando”. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra prometeu processá-lo. Por que não aparece na documentação apresentada até hoje e não havia sido rastreado pelos historiadores e jornalistas? Talvez o policial seja a prova de que é possível escarafunchar mais fundo nos e fora dos porões.
Um dos problemas de Cláudio Guerra é que não percebe nada além do coronel Freddie Perdigão e do comandante Antonio Júlio Vieira. Os dois, do seu ponto de vista, parecem general e brigadeiro. Não há uma palavra sobre quem chefiava os dois militares diretamente — o que não sugere que o delegado não era mesmo “estrategista” e não tem informação além da zona de operação em que se envolveu.
O delegado conta que, no porão, Freddie Perdigão apresentava-se como doutor Nagib e doutor Flávio. “O coronel foi um torturador dos mais cruéis, um carrasco que tinha prazer no ofício.” Era um homem sem medo. Comandou, por exemplo, o sequestro do bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito. O religioso, depois de espancado, foi “abandonado nu, com o corpo pintado de vermelho”. Teve o apoio do comandante Vieira.
“Foi Perdigão quem vislumbrou que a estrutura organizacional do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi, serviria como uma luva para operacionalizar o funcionamento do aparelho de repressão do Estado. (…) Para o DOI-Codi, Perdigão levou também as técnicas aprendidas na Scuderie Le Cocq, com a qual passou a manter estreito relacionamento ilegal”, conta Cláudio Guerra.
O comandante Antônio Vieira é o personagem mais curioso do livro, pois não é mencionado noutras obras, nem mesmo em trabalhos amplos como o de Elio Gaspari. Morreu em 2006, praticamente incógnito. “O comandante Vieira era o contato de Alexandre von Baumgarten na agência do SNI do Rio de Janeiro. (…) O comandante e Perdigão eram os cabeças da comunidade de informações no Rio.”
Vieira era do Cenimar, mas trabalhava com o coronel Perdigão, do Exército. “Todas as agências de informações do Brasil tinham um panfleto do general Golbery, enforcado, para mostrar que ele era traidor. Alguns radicais pensaram em matar o general. Ligado ao Cenimar e ao SNI, o comandante Vieira foi quem teria desenhado esses panfletos. ‘Olha aqui, agora querem matar o safado’, disse a mim o Perdigão, quando me entregou o panfleto, e falou dessa habilidade de desenhista do Vieira. Era ele quem fazia os croquis das operações; e era muito culto.”
Outro chefe do porão, segundo Cláudio Guerra, era o coronel da artilharia Ênio Pimentel da Silveira, o doutor Ney (Borges de Medeiros). “Doutor Ney, coronel Perdigão, delegado Sérgio Fleury e comandante Vieira foram os personagens centrais e principais articuladores dessa trama de repressão criada no submundo da ditadura. (…) Esse [doutor Ney] era carne e unha com Perdigão e Vieira; os dois não faziam nada sem ele. Sempre me pareceu que Perdigão e Vieira eram chefes operacionais. Já o doutor Ney parecia ser um elo entre o SNI, o DOI-Codi e as outras áreas de informação, em Brasília”, diz o delegado. “Dois outros personagens foram decisivos para a vitória dos militares na guerra clandestina: os coronéis Carlos Alberto Brilhante Ustra e Paulo Manhães.” O doutor Ney era chamado de “irmão do Fleury”, tal a ligação dos dois.
Agente goiana
Segundo Cláudio Guerra, foi o doutor Ney quem “planejou a emboscada ao grupo dirigente da Ação Libertadora Nacional”, em 1972, que matou Iuri Xavier Pereira, Ana Maria Nacinovic e Marcos Nonato da Fonseca. Antônio Carlos Bicalho Lana escapou, mas foi morto um ano depois numa operação coordenada pelo doutor Ney e por Freddie Perdigão. O coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva é apontado, pelo delegado Cláudio Guerra, como outro chefe do porão. O militar contesta. Ele era ligado ao ministro da Justiça do governo Geisel, Armando Falcão. “A maior parte do material explosivo da bomba que atingiu o ‘Estadão’ foi ele quem me entregou”, afirma o delegado. Para jogar a bomba no jornal da família Mesquita, Cláudio Guerra contou com a agente Tânia, apontada como da polícia de Goiás.
O coronel do Exército Paulo Manhães, o doutor Pablo, chefiou o SNI no Rio de Janeiro e teria sido o militar que comandou “o extermínio” dos quadros do Partido Comunista Brasileiro em todo o país. Cláudio Guerra o apresenta como chefe do coronel Freddie Perdigão, mas acrescenta que este militar enviava seus relatórios diretamente para Brasília. Apontado como “o mais sádico dos torturadores”, Paulo Manhães combateu a Guerrilha do Araguaia.
O procurador da República Geraldo Abreu, radicado no Espírito Santo, teria dado apoio à ditadura. O delegado Cláudio Guerra garante que Abreu “recebia armas encaminhadas por um agente da CIA no mesmo escritório onde foi cooptado para a guerra suja e clandestina contra a esquerda”. O policial sustenta que “algumas procuradorias federais nos Estados fizeram parte da comunidade de informações. Os gabinetes das procuradorias davam suporte ao SNI quando a capital de um Estado não tinha sede própria do órgão”.