O
escritor Hilaire Belloc (1870-1953), um anglo-francês amigo de G.K. Chesterton,
disse: “Metade do escrevemos é prejudicial; o resto, inútil”.
Belloc
foi poeta, político, ensaísta, católico fervoroso e esquizoide. Eu acho, pelo
menos. Um “anglo-francês” é uma esquisitice tão grande quanto um “argentino-brasileiro”.
Um ser imaginário que não faz sentido algum aos olhos de deus e dos homens. No
entanto, Belloc está certo quando diz que escrever é uma atividade ridícula e
desprezível. Pra quê serve a literatura, afinal? Pra nada. Absolutamente nada.
Fez muito bem a FLIP em se transformar numa feirinha de ativistas. A turba
bolsonarista que tentava impedir a palestra de Glenn Greenwald é a imagem que vai
ficar do encontro. O resumo.
Livrarias
fecham, editoras agonizam e só funcionários públicos podem se dedicar à literatura
no Brasil, mas está tudo bem. Afinal, pra que serve a literatura? Pra nada. O
que os dramas burgueses de Machado fizeram pela emancipação do proletariado?
Nada. O que o indeciso príncipe dinamarquês de Shakespeare fez pela restauração
do catolicismo na Inglaterra? Nada. O que Euclides fez pelo banimento dos
canudos? Acertou: nada. Eu poderia comentar ainda o papel de Cervantes na
emancipação da mulher negra (nenhum) ou de Mário de Andrade na demarcação de
terras indígenas (zero), mas acredito que o argumento esteja claro. A
literatura é uma atividade inútil e é uma absoluta perda de tempo se ocupar com
essa bobagem. Ativismo, sim! Essa é a glória que fica, eleva, honra e consola.
Afinal,
pra que serve a literatura? Só pra uma coisa, que é, no entanto, desprezível,
desnecessária e dispensável: criar o imaginário de um povo. Uma ideia de nação.
Uma ideia de país. Uma ideia de cultura. Uma ideia de futuro. Uma ideia de
passado. Mas quem precisa disso? Não o Brasil, muito obrigado.
Passamos
da barbárie à decadência sem fazer escala na civilização. Ficamos reduzidos a duas
tribos políticas antagônicas que só se encontram no atraso. De um lado, a
corrupção corporativista primitiva e cínica comandada por uma triste figura
sebastianista endeusada por padres sem fé. De outro, o fascismo ignorante
violento e tosco liderado por uma patética figura endeusada por pastores com fé
apenas no dinheiro. Em 500 anos, foi isso o que conseguimos produzir. Quer
dizer, 500 não, que isso é de um eurocentrismo pra lá de abjeto. São 13.500, a
contar da chegada de Luzia na nossa horta. Luzia, o fóssil mais antigo das
Américas. Aquele que quase virou cinzas quando o Museu Nacional pegou fogo,
lembra?
Diante
desse abissal tempo perdido, para que serve a literatura? Para construir um imaginário
diferente desse que está aí? Para unir as tribos belicosas numa cultura comum? Ah,
fala sério. Quem precisa disso? A Terra é plana, a cabeça é oca e a FLIP está
certa em se encher de lobbystas em vez de autores.
Afinal,
se todo mundo bater bumbo o tempo inteiro, ninguém vai ouvir o brasileiro
gritando: “O horror! O horror! O horror!”
A FLIP está certa: a literatura é inútil publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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