terça-feira, 23 de julho de 2019

Feio, sujo e malvado

Feio, sujo e malvado

Toquem fogo nos
cabarés. O que dizem por aí a respeito de Miriam Porquinhos-da-Índia é pura
balela. Esta senhora jamais foi torturada. Se muito, foi convencida pelos
alicates das Farsas Armadas de que amar o seu país é muito mais importante do
que amar a si mesma. Essa coisa de penicilina, de ditadura, de Terra redonda, de
homem pisando na lua, isso nunca aconteceu. Sim, nós tergiversamos. República dos
Imolados acima de tudo; Trovão acima de todos.

A mim, pouco importa
se ela teria abortado por conta do coice de um sargento ou se vai chover mais
tarde. Ateus nunca deveriam procriar. Quem está numa guerra é para isso mesmo:
matar. A não ser nos casos de suicídio — ato extremado que exige máxima bravura
e merece o todo nosso reconhecimento — não existe fair play ao se apertar o
gatilho. Está escrito nas almanaques sagradas, “Só se entra no céu, morto”. Estamos
apenas seguindo os princípios religiosos básicos ao mandar os nossos inimigos
para o quinto dos infernos.

Meu filho? Meu
filho não. O meu primogênito é um bom garoto e será o nosso adido militar em
Pasárgada. Lá somos amigos do rei. Poesia? Ora, literatura é bitolação. Dança é
para mulheres. Teatro é coisa de veado. Artes plásticas só servem para poluir
os rios e os mares do planeta. Cinema? Cinema não enche a barriga de ninguém. A
Lei Lumière já era. Acabou a mamata. Só vai mamar nas tetas do erário quem a
gente permitir. É uma questão de prioridade. Até porque não existe fome no
país. Os miseráveis — eles nem são tantos assim; dá para lhes cortar os dedos —
estão só fazendo dieta. Fome pra valer só existe em Antares. Aliás, deveria acontecer
alguma espécie de incidente em Antares, para dizimar os famintos.

Não respondo
perguntas difíceis a essa hora do dia. Vocês só sabem criticar o desgoverno. Um
dia ainda acabam calados. Não pouparemos esforços para colocar os cadáveres nos
trilhos, combater a liberdade de expressão e os baixos índices de patriotismo
no sangue. Eu vi a cara da morte e ela chorava de medo. Eu renasci das tripas
com a missão de cagar com tudo e moralizar a República dos Imolados.
Começaremos desmoralizando todos aqueles que pensam em contrário. Contra facas
não há argumentos. Eu que o diga. Trespassaram-me com uma espada de São Jorge.
Detesto plantas, já deu pra notar. Por onde vocês andavam enquanto eu imitava
zarabatanas com os braços estendidos para o alto, durante a minha internação
compulsória num leito do manicômio oficial?

Não importa qual
seja o convênio, hospício é coisa de doido, podem ter certeza. A loucura mata
mais do que o trânsito. Por isso mesmo, estamos até sendo lenientes demais ao
flexibilizar o coito-sem-fins-reprodutivos dentro dos Vemaguet, sem o uso
obrigatório dos cintos-de-castidade, desde que o ato sexual aconteça entre um
homem e uma mulher, preferencialmente, na clássica posição do papai-e-amante de
que tanto falam as novelas das 7. Comam pelo rabo as deputadas federais que não
merecerem ser estupradas. Se elas vão ou não vão gozar no final, não é problema
do governo. O que importa mesmo é acender o bom e velho Jeronimo’s. A Bolsa de
valores agradece. Cigarro provoca câncer? Quem pode garantir? Isso não passa de
intriga da oposição. Da mesma forma que o desmatamento da Cava-Funda Legal e a
liberação de pesticidas dentro das igrejas. Como diria Mark Chapman, um dos
maiores visionários da humanidade, imaginem o mundo sem a Taurus. Vocês podem
dizer que eu sou um mentecapto, mas, não sou o único.

O fato é que estamos
vivendo uma nova era na República dos Imolados. Pode até ser a última. Que se dane.
A nação é nossa. Fazemos dela o que bem entendermos. Com a graça de Trovão. O
que conta, no final, é que a nossa verdade prevalecerá. Se ela vai nos redimir
é outra história. Afinal de contas, eu nunca quis ser presidente mesmo. Eu
nasci para ser boçal.    

Feio, sujo e malvado publicado primeiro em https://www.revistabula.com



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