Um padre, uma questão polêmica, o direito de expressão, uma opinião e
vários julgamentos. Essa foi a fórmula para mais uma demonstração de que há, no
país, uma grande ferida exposta pela falta de sensibilidade com a opinião
alheia. Em mais essa lamentável confusão, deve-se dar menos importância ao que
foi dito e muito mais à consequência da intolerância. Estamos todos doentes,
reconheçamos.
O padre expressou sua opinião sobre determinada questão que envolve o
direito da pessoa presa no Brasil. Como leigo no assunto, apenas externou uma
noção sobre o que entende como justiça — o seu entendimento pessoal. Não tardou
para que uma leva de indignados proferisse
os mais diversos xingamentos contra o padre, das maneiras mais cruéis, devido à
sua expressão na rede social. Acuado,
padre Fábio, que já sofreu de depressão, não teve outra saída a não ser anunciar sua saída do Twitter.
Esse caso é apenas mais um dos milhares que ocorrem no nosso cotidiano
atualmente. Por se tratar de uma pessoa famosa, um influenciador, a comoção
ressoou e alcançou um nível que exige o necessário debate sobre nossas atitudes
para com quem pensa diferente de nós. Estamos, atualmente, no limite extremo da
barbárie em termos de ataques virtuais. Mais que isso: até mesmo os momentos
íntimos com pessoas mais próximas, como nos almoços de família e nos grupos de amigos
no whatsapp, não escapam das
brigas causadas pela falta de respeito pela opinião alheia.
Ninguém mais parece querer ouvir para construir. A poliarquia parece
existir apenas como valor constitucional jogado ao vento; é letra morta. Não há
harmonização através do debate, apenas a imposição de pensamento convergente e
o acolhimento de quem pensa igual. O momento exige uma pausa reflexiva para que se possa respirar e
constatar que o destino final desse eterno embate com o “oposto” não é outro
que não a morte da sensibilidade. No final, restará apenas a vida em uma bolha
de iguais em constante guerra de egos com o divergente.
Tudo isso parte de uma crença nas coisas como elas deveriam ser em
nossos ideais. Essa batalha nada mais é que uma frustração interna por não aceitarmos
que possamos de alguma forma estar errados. É como se uma regra interna nossa, sobre
como o mundo deveria funcionar, fosse quebrada e imediatamente ligássemos um
alerta de repulsa ao contraditório. A estupidez prospera em forma de
intolerância e vaidade.
O padre Fábio de Melo é apenas mais uma das vítimas do famigerado
ambiente beligerante no qual parecemos estar fadados a viver. Sua saída da rede
social representa um grito de socorro da própria sociedade, cuja aceitação só é
permitida aos que propagam as ideias que estejam em tácito acordo coletivo.
Infelizmente, essa guerra civil contra a livre expressão não tem vencedores. Há
apenas afagos dos próximos e mais ódio ainda dos que estão do outro lado da
trincheira de pensamentos. O gauche
de Drummond não tem mais nenhum espaço no mundo de agora. Sim, há uma evidente epidemia negativa na sanidade
mental coletiva. Infelizmente, estamos todos afetados.
O padre Fábio de Melo saiu do Twitter: o Brasil precisa de uma grande terapia coletiva publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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