Era um desses almoços em que reunimos a família para
comemorar o Dia dos Pais. Um dos meus irmãos relembrou quando ele era criança e
perguntou ao meu pai por que ele também não era filho, assim como o nosso outro
irmão. Rimos à mesa. É que esse outro irmão possui o mesmo nome do papai, e,
por isso, recebeu Filho após o sobrenome. Menino curioso, meu irmãozinho não se
conformava que só o irmão mais velho era, pelo menos no nome, “filho” do nosso
pai.
Fiquei olhando para o papai. Reparei o cabelo grisalho
e as rugas ao redor dos olhos. Tentei me lembrar de como ele era mais jovem e
recordei algo que estava perdido nos esconderijos da minha memória: nunca fui
parecida com ele. Desde pequena, ouço as pessoas dizerem que sou a cara da
minha mãe. Até a voz é parecida, dizem. E é lógico que sempre me orgulhei
disso, afinal, acho minha mãe muito bonita. Mas, assim como meu irmão, eu
também queria ter algo do papai.
Outro dia, um amigo me disse que é praticamente igual
ao pai na forma física e totalmente diferente no jeito de ser. Às vezes, eles
se entendem; outras vezes, se suportam. Quando estão bem um com o outro, sentem
orgulho da semelhança em seus traços; mas, se estão brigados, não querem nem olhar
um para o outro. Ao ouvir isso, passei a reparar nos detalhes e nas pequenas
coisas do meu dia a dia: a preocupação e os cuidados com os animais de
estimação, o jeito de lidar com as adversidades e os problemas, o gosto por
certos alimentos e bebida, a cara amarrada quando estou de mau humor e o coração
mole quando estou feliz. Foi uma revelação: descobri que herdei a genética da
minha mãe e a personalidade do meu pai.
Então me lembrei do cajueiro que plantamos, eu e ele, com
nossas mãos grandes e pequenas, no jardim da casa da minha infância. Com o
aroma dos cajus, a memória de filha foi se preenchendo com as idas ao clube ao
final da tarde (enquanto ele jogava futebol, eu brincava com as amigas), com as
pescarias de lambaris com vara de bambu, com os lanches e os sorvetes e o jeito
de molhar o pão no café com leite. Meu pai. Apesar das diferenças, somos tão parecidos.
O Dia dos Pais é uma data comercial, como tantas outras. Mesmo assim, como nos outros dias comemorativos, somos invadidos por lembranças e sentimentos. Alguns bons; outros, nem tantos. Há quem gostaria que o pai fosse mais presente, há quem gostaria que o pai estivesse vivo. Há quem não se importe mais com isso. E há aqueles que se sentem felizes ao constatar que, apesar das distâncias e dessemelhanças, ainda se parece com o pai.
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