Antes de beber, compre o whisky. Algumas pessoas
costumam entrar em lojas de bebidas e sair bebendo, mas isso dá encrenca. Por
algum motivo misterioso, gente que bebe não tem credibilidade alguma com a
polícia, enquanto os donos de loja têm bastante. Certifique-se, contudo, de que a loja
realmente vende bebida. Tentativas de comprar whiskies em açougues ou petshops
são mal sucedidas em 93% dos casos, diz pesquisa.
Na hora da compra, entenda que existem dois tipos de
whisky: um é feito de cevada e o outro é feito de milho. O de milho é produzido
nos Estados Unidos e costumava ser chamado de “whiskey”, mas usa o nome social
de “bourbon”. O mais famoso entre eles é o Jack Daniels, embora o Jim Beam
tenha um leve sabor de amendoim que me parece mais agradável, mas isso é tão
pessoal quanto o seu nome social.
Entre os whiskies de cevada, existem dois tipos: o
escocês e os outros. Ignore os outros. Dizem que há bons whiskies feitos no
Japão, mas acreditar nisso é o mesmo que dizer que Godzilla vive em Loch
Ness.
Entre os whiskies escoceses, existem dois tipos: o
single malt e o blended. Ignore o blended. O single malt é o whisky de uma
única destilaria e o blended (“misturado”) junta o produto de várias delas.
Quase 80% do mercado é dos blendeds, que saem mais em conta. Ou costumavam sair.
De uns tempos pra cá, as destilarias têm inventado misturebas chiques de
rótulos pretos que custam os olhos da cara. O blended whisky mais famoso do
mundo é o Johnny Walker, que ninguém conhece na Escócia. É fato. Até o monstro
de Loch Ness é mais visto no país do que ele. No entanto, caso o PIB prossiga
na baixaria atual e você tenha de trocar o single malt pelo blended, escolha o
Famous Grouse, que não é tão famoso quando o Johnny Walker, mas desce redondo e
reanima. Note, contudo, que com apenas alguns reais a mais, você leva o Jura,
que é um single malt. Fique tranquilo. O nome “Jura” vem da ilha onde a bebida
é destilada. Depois de tomá-lo você não vai sair por aí lacrando e falando
“Jura?”
Entre os single malts, existem dois tipos: os da
montanha e os de ilha. Você deve chamar as montanhas de “highlands”, que é mais
chique. As ilhas você pode chamar de “islands” mesmo. Também existem whiskies
nas “lowlands”. Ignore. A região de Speyside fica no norte da Escócia e os
bebedores costumam separá-la das highlands. Isso é frescura. A divisão só
acontece porque dali sai o mítico The Macallan, o whisky mais caro do mundo. A
garrafa do Macallan 1946 está no mercado por 400 mil euros (um milhão e
oitocentos disso que você chama de “reais”). E, mesmo assim, você não consegue
comprá-la. A maldita elite já arrematou tudo. De pé, oh, vítimas da fome! De
pé, famélicos da Terra!
Entre os whiskies de ilhas, existem dois tipos: os das
ilhas menores (Jura, Aran, Mull e Skye) e os da ilha maior, Islay. Isso também
é frescura e você deve agrupá-los. Se quiser, pode incluir o Oban, que é um
whisky de litoral, mas que tem sabor de ilha. O whisky das montanhas é claro,
suave e adocicado. O whisky das ilhas é turvo, defumado e salgado. Paladar e
nome social não se discutem, mas eu prefiro os whiskies de Islay. O Lagavulin é
o mais famoso, mas bom mesmo é o Laphoraig 10 anos, um excelente motivo para
comprar uma passagem pra Escócia. Só de ida, de preferência.
Como beber whisky publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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