Seguindo uma tendência mundial, o mercado editorial tem sofrido com as quedas nos últimos anos. Editoras e livrarias tradicionais têm fechado suas portas em todo o país. Mas, apesar das previsões pessimistas, a literatura resiste e ótimas obras continuam ganhado destaque entre os leitores. Para aqueles que desejam manter as leituras em dia em 2020, os editores da Revista Bula elaboraram uma lista com 12 indicações essenciais. Entre eles, estão “Sobre os Ossos dos Mortos” (2019), o thriller de Olga Tokarczuk, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2019; “As Desventuras de Arthur Less” (2017), de Andrew Sean Greer, que venceu o Pulitzer em 2018, e o segundo romance da aclamada escritora brasileira Martha Batalha, “Nunca Houve Um Castelo” (2018).
O livro se passa no ano 2000, em Nova York, uma cidade cheia de possibilidades. E a narradora de “Meu Ano de Descanso e Relaxamento” não tem motivo para queixas. Ela é jovem, bonita, recém-formada em uma renomada faculdade, trabalha numa galeria descolada, mora Upper East Side e recebeu uma herança polpuda. Mas traz um enorme vazio no peito. E não apenas porque perdeu os pais ou por causa da relação destrutiva que desenvolveu com sua melhor amiga. O que pode estar tão errado? Durante um ano, ela passa a maior parte do tempo dormindo, embalada por uma combinação de remédios prescritos por uma psiquiatra inescrupulosa.
Por meio de um narrador inusitado, Ian McEwan cria uma história de intriga e mistério. O narrador deste livro é nada menos do que um feto. Enclausurado na barriga da mãe, Trudy, ele escuta os planos que a progenitora tem de assassinar o marido em conluio com o amante, Claude, que também é cunhado. Trudy planeja herdar do pai de seu bebê uma mansão de sete milhões de libras. Tornando-se uma testemunha dos planos diabólicos da mãe, o feto enfrenta uma série de questões existenciais antes mesmo de nascer e sente-se impotente por não conseguir intervir. Ian McEwan, escritor britânico, é considerado um dos maiores ficcionistas da atualidade. “Reparação” (2001) e “Amsterdam” (1998) são suas obras mais famosas.
Publicado originalmente em 1959, “A Fúria” é uma antologia de contos, o primeiro livro da escritora argentina Silvina Ocampo que chega ao Brasil. Considerado a obra mais autêntica de Silvina, reúne histórias que misturam elegância e excesso, distanciamento e intensidade, calma e horror. Entre os principais contos, estão “A Casa de Açúcar”, que fala sobre a influência que a antiga dona de uma casa exerce sobre a nova inquilina; “As Fotografias”, que relata a festa de aniversário de uma jovem paralítica; e “A Fúria”, que dá nome ao livro e conta a história de uma criança que incendeia cruelmente a amiga. Revalorizada com entusiasmo nos últimos anos, Silvina Ocampo é uma das principais autoras argentinas do século 20. Ela morreu em 1993.
Martha Batalha recria a trajetória dos descendentes de Johan Edward Jansson, cônsul da Suécia no Brasil. Para contar essa história, a autora relata duas festas de Ano Novo que foram marcantes para a família. Na primeira, no fim do século 19, Johan Edward Jansson conhece Brigitta, em Estocolmo. Eles se casam, mudam para o Rio de Janeiro e constroem uma casa num lugar ermo e distante do centro, chamado Ipanema. Setenta anos depois, Estela, recém-casada com o neto de Johan, presencia uma cena desastrosa para seu casamento em uma festa de Réveillon. “Nunca Houve um Castelo” explora como esses dois eventos definiram a trajetória dos Jansson ao longo de 110 anos. É uma comovente saga familiar sobre escolhas, arrependimentos e as mudanças imperceptíveis do tempo.
“Morreste-me” foi a obra que revelou o escritor português José Luís Peixoto. Em 66 páginas, Peixoto relata a morte do seu pai após um sofrido tratamento de saúde, o processo de luto e a experiência de voltar à casa onde viveu durante a infância, que agora está vazia. Sem o pai, a casa mergulha em um constante inverno, independente do passar dos dias: “Regressei hoje a esta terra agora cruel. A nossa terra, pai. E tudo como se continuasse. Diante de mim, as ruas varridas, o sol enegrecido de luz a limpar as casas, a branquear a cal; e o tempo entristecido, o tempo parado”. Peixoto se sente envolto pela morte e apenas as lembranças do pai ajudam a aliviar o presente.
Mario e Olga vivem uma relação de 15 anos, com altos e baixos de um casamento normal, sem nada que justifique um término abrupto. Mas, de repente, Olga é abandonada por Mario. Presa ao cotidiano estilhaçado com dois filhos, um cachorro e nenhum emprego, Olga relembra os momentos críticos do passado com Mario e se dá conta de que foi humilhada e enganada. Em um mergulho existencial, com raiva da justificativa mentirosa do marido ao tê-la deixado, ela procura novos sentidos para a sua vida. Assinado pela autora cuja verdadeira identidade é mantida em segredo, “Dias de Abandono” colocou Elena Ferrante no panteão dos maiores autores da literatura atual.
“Stoner” conta a história da vida de um homem entre as décadas de 1910 e 1950: William Stoner, filho único de camponeses, está destinado a cuidar das terras da família, mas descobre sua paixão pelos estudos literários e se torna professor universitário. A partir desse ponto, narram-se o progressivo afastamento de Stoner da própria família, as relações complicadas com os colegas, as amizades tragicamente marcadas pela guerra, a difícil vida conjugal, o impossível amor clandestino por uma professora mais jovem e o encontro com a morte. Stoner reage às provações da vida com aparente impassibilidade e silencioso estoicismo, emergindo como um trágico herói da vida cotidiana. O livro, publicado pela primeira vez em 1965, foi lançado no Brasil em 2015.
Em uma remota região da Polônia, vive a sra. Dusheiko, uma professora de inglês aposentada que costuma se dedicar ao estudo da astrologia, à poesia de William Blake, à manutenção de casas para alugar e a sabotar armadilhas para impedir a caça de animais silvestres. Sua excentricidade é amplificada por sua preferência pela companhia dos animais aos humanos e pela crença na sabedoria advinda dos astros. Quando alguns caçadores da região começam a morrer misteriosamente, Dusheiko tenta descobrir quem é o responsável pelos assassinatos. A polonesa Olga Tokarczuk, uma das escritoras mais aclamadas da atualidade, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2019 e o Man Booker Prize em 2018.
A história se passa em uma terra fictícia, há séculos. Em algumas zonas, aldeões vivem em abrigos cavados nas encostas dos montes, ligados uns aos outros por passagens subterrâneas. É numa dessas cavernas que mora o casal de idosos, Axl e Beatrice. Um dia, eles decidem que irão procurar o filho que não veem há anos, de quem pouco se recordam. Durante a viagem, eles enfrentam muitos perigos, conhecem pessoas maldosas e temem os boatos sobre a existência de um dragão. Eles também percebem que uma estranha condição está acometendo aos poucos pessoas de todos os lugares: a perda de memórias. Kazuo Ishiguro, escritor nipo-britânico, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017.
A vegetariana conta a história de Yeonghve, uma mulher comum que, pela simples decisão de não comer mais carne, transforma uma vida aparentemente sem maiores atrativos em um pesadelo perturbador e transgressivo. O romance apresenta o distanciamento progressivo da condição humana de uma mulher que decidiu deixar de ser aquilo que marido e família a pressionaram a ser a vida inteira. A recusa de Yeonghve é vista como radical e se torna uma escolha destrutiva, que parece infectar todos que são próximos a ela. Narrado a três vozes, “A Vegetariana” é uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo.
“Hoje, meu filho Pedro pulou da janela do seu apartamento.” Assim começa o romance de Javier A. Contreras, um relato sobre o suicídio e a angústia dos que permanecem. Ao contar a história dos sete dias que se seguem à morte de Pedro, o autor embarca em uma narrativa que aborda temas como a relação pai-filho, o caos do mundo moderno e as expectativas que nutrimos e frustramos no decorrer da vida. Com ritmo fluido, os sentimentos de Ruy, pai de Pedro, são trazidos à superfície em um misto de raiva e desolação. Ao perder o único filho, Ruy reavalia não só sua relação com a paternidade, mas com todo o mundo a sua volta. Javier Arancibia Contreras nasceu em 1976. Ex-repórter policial, lançou seu primeiro trabalho literário, “Imóbile”, em 2008.
Arthur Less é um escritor medíocre prestes a completar 50 anos. Certo dia, recebe um convite de casamento: o homem com quem teve um longo relacionamento irá se casar. Ele não pode dizer que irá comparecer, pois seria estranho demais, e não pode dizer que não vai, já que seria o mesmo que admitir a derrota. Como pretexto para não estar na cidade, ele aceita convites para eventos literários em várias partes do mundo. Assim, Less vive aventuras em diferentes cidades, desde uma paixão em Paris até um retiro espiritual na Índia. “As Desventuras de Arthur Less” ganhou o Pulitzer em 2018.
12 livros para ler em 2020 publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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