A Revista Bula realizou uma enquete entre os meses de junho e agosto de 2019, com o objetivo de descobrir quais são, segundo os leitores, os melhores romances brasileiros escritos por mulheres e publicados no século 21. A consulta foi feita a colaboradores, assinantes — a partir da newsletter —, e seguidores da página da revista no Facebook e no Twitter. Foram considerados apenas os romances publicados a partir do dia 1º de janeiro de 2001, e apenas um livro por autora. Nos casos de autoras que tiveram mais de um livro citado, foi considerado apenas o romance que obteve o maior número de indicações na pesquisa. O critério de desempate, quando necessário, foi a nota atribuída aos títulos na rede social de leitura Skoob. Os livros foram divididos em cinco categorias, de acordo com o número de indicações: +100, +70, +50, +40, +30. As sinopses foram adaptadas das editoras.
Foram lembrados autores de diferentes regiões do Brasil, em especial a Sudeste. O Rio de Janeiro foi o estado com o maior número de autoras citadas, com quatro indicações, seguido por São Paulo e Rio Grande do Sul, com duas autoras indicadas cada. Entre as escritoras cujas obras foram selecionadas, apenas uma não está viva: Elvira Vigna, que morreu em 2017, aos 69 anos. Com relação à idade, a mais jovem é Luisa Geisler, que nasceu em 1991, e a mais velha é Nélida Piñon, nascida em 1937.
Livros que obtiveram mais de 100 indicações
Dois estranhos se encontram num verão escaldante no Rio de Janeiro. Ela é uma designer em busca de emprego, ele foi contratado para informatizar uma editora moribunda. O acaso junta os protagonistas numa sala, onde
ele relata a ela seus encontros frequentes com prostitutas em suas viagens a trabalho. Ela mais ouve do que fala, enquanto preenche na cabeça as lacunas daquela narrativa e desmonta os argumentos de João. Desses encontros, Elvira Vigna cria um poderoso jogo literário de traições e insinuações, um livro sobre relacionamentos, poder e mentiras. Elvira foi uma das maiores escritoras contemporâneas do Brasil, publicou dez romances, muitos deles premiados; e vários contos. Ela morreu em julho de 2017, vítima de câncer.
Livros que obtiveram mais de 70 indicações
Tendo como cenário o Rio de Janeiro dos anos 1940, Martha Batalha narra a trajetória das irmãs Guida e Eurídice Gusmão. Enquanto Guida desaparece da casa dos pais sem deixar notícias, Eurídice se torna uma dona de casa exemplar. Enquanto o leitor acompanha as desventuras de Guida e Eurídice, é também apresentado a uma gama de figuras fascinantes: Zélia, a vizinha fofoqueira, e seu pai Álvaro; Filomena, ex-prostituta que cuida de crianças; Luiz, um dos primeiros milionários da República; e o solteirão Antônio, dono da papelaria da esquina e apaixonado por Eurídice. Livro de estreia de Martha Batalha, o romance foi aclamado internacionalmente. Adaptação da obra, o filme “A Vida Invisível” (2019), dirigido por Karim Aïnouz, foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar 2019.
A história das irmãs Clarice e Maria Inês, filhas de um fazendeiro fluminense, é o fio condutor do romance de Adriana Lisboa. Clarice, a mais velha, sempre esteve destinada a se casar com o filho do dono da fazenda vizinha, enquanto Maria Inês, a mais nova, se torna testemunha de um abuso que dilacera a vida de sua irmã. O pai, Afonso Olímpio, vaga como uma sombra enigmática e sombria, e a mãe, a resignada Otacília, ao se dar conta de sua infelicidade, tenta salvar suas filhas. “Sinfonia em Branco” venceu o Prêmio José Saramago, em 2003. Adriana Lisboa é autora de seis romances, além de poemas, contos e livros infantis. Suas obras foram publicadas em 14 países.
Livros que obtiveram mais de 50 indicações
Alice é uma professora aposentada, que tinha uma vida pacata em João Pessoa, até ser obrigada pela filha a abandonar tudo e se mudar para Porto Alegre. Ao chegar na cidade, recebe a notícia de que a filha e o genro irão passar seis meses na Europa. Sozinha em uma cidade desconhecida, Alice se revolta por ter deixado João Pessoa e passa a registrar seus sentimentos em um diário. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma amiga paraibana, desapareceu perto em Porto Alegre, Alice começa a procurá-lo pelas ruas da cidade. Por 40 dias, ela vagueia só, em uma busca frenética que pode levá-la a insanidade. “Quarenta Dias” foi o vencedor do Prêmio Jabuti de Romance, em 2015. Autora de cinco romances, Maria Valéria Rezende é uma das mais aclamadas escritoras brasileiras da atualidade.
Livros que obtiveram mais de 40 indicações
Com toques autobiográficos, Tatiana Salem Levy conta a história de uma mulher, neta de judeus da Turquia e nascida em Portugal, que recebe do avô a chave que abriria a porta da casa de Esmirna, para onde os avós fugiram durante a Inquisição. Criada no Brasil, ela não se sente pertencente a nenhum lugar e, em busca de seu passado familiar, a narradora interliga, em ordem não cronológica, momentos cruciais de sua vida, passando por temas como a morte de sua mãe e o relacionamento conturbado com um homem violento. Primeiro livro de Tatiana, “A Chave da Casa” foi um grande sucesso de crítica e deu à escritora o Prêmio São Paulo de Literatura como autora estreante.
Henrique, um jovem que vive no subúrbio de Canoas (RS), se considera, em todos os aspectos, uma pessoa normal. Ele cursa administração, trabalha em um posto de gasolina e tem um relacionamento à beira do fracasso com Manu. Mas, tudo muda quando Gabriel, seu melhor amigo desde à infância, entra em coma devido a um acidente doméstico banal. Os médicos dizem que a única opção é esperar, não há o que fazer. Sofrendo com a ausência do amigo, Henrique começa a escrever cartas, contando tudo o que se passa enquanto Gabriel está desacordado. “É para quando tu acordar”, diz. Vencedora de duas edições do Prêmio Sesc de Literatura, Luisa Geisler é considerada uma das melhores jovens escritoras do Brasil.
Livros que obtiveram mais de 30 indicações
Alma, uma pintora de 44 anos, passa a limpo sua sofrida trajetória, constituindo uma colcha de retalhos da vida e virando do avesso quem se propõe a acompanhá-la nessa jornada marcada por feridas e cicatrizes. Parafraseando Carlos Drummond de Andrada, Alma deseja “lembrar para esquecer”, numa tentativa de acertar as contas com o passado e escrever felicidade em seu futuro. As perdas dos entes mais queridos de Alma levam o leitor a reavaliar suas relações familiares, lembrando que a morte sempre pega a todos de surpresa. Cada capítulo do livro leva o nome de um alimento, sabores que marcaram momentos vividos com pessoas que forjaram a história de Alma.
Em “Vozes do Deserto”, a autora recria a história de Scherezade, a narradora dos contos das “Mil e Uma Noites” e uma das personagens mais famosas da literatura oriental. Para salvar a vida das jovens de seu reino, ela aceita se casar com o poderoso Califa, que mata todas as suas mulheres após a noite de núpcias. Scherezade acredita que o seu poder de contar histórias irá encantar o Califa, que a deixará viva, poupando as outras jovens. Sem que o monarca perceba, a meta de Scherezade vai sendo alcançada. Ele sempre lhe pede que conte mais histórias, e assim vão se passando as mil e uma noites. Vencedora de prêmios importantes, como Jabuti e Casa de Las Americas, Nélida Piñon foi a primeira mulher a se tornar presidente da Academia Brasileira de Letras, entre 1996 e 1997.
Em uma colônia penal isolada, construída para ser um modelo de detenção do qual ninguém fugiria, ficam poucos presos abandonados pelo sistema; o carcereiro Taborda e o comandante Melquíades. Como um capitão do mato, Melquíades é o algoz dos detentos, caçando-os e matando-os apenas por satisfação pessoal. A terra utilizada pelo comandante para enterrar as vítimas já abriga restos mortais antigos, pois a colônia foi construída onde antes funcionava uma fazenda de escravos. Os presos, cada um com sua história particular, estão sempre planejando uma fuga, sem saber se serão mortos por Melquíades ou pelo que os espera do lado de fora das grades. Escritora e roteirista, Ana Paula Maia ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2018, por “Assim na Terra Como Embaixo da Terra”.
Em um bar que abriga um salão de sinuca, sete personagens narram um momento de luto, depois que Antônia, uma garota na casa dos 20 anos, morreu num acidente de automóvel. O local é frequentado por Camilo, irmão rebelde de Antônia, que tinha uma relação especial com ela.
O tímido Bernardo, apaixonado pela garota, tenta investigar as causas do acidente. Também ligados à tragédia estão Polaco, a jornalista Helena, o publicitário Gustavo, o vizinho Lucas e o forasteiro Santiago. A seu modo, cada um deles reflete sobre a ausência de Antônia. A autora, Carol Bensimon, é doutora em literatura e integra a edição “Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros”, da revista inglesa “Granta”.
Os 10 melhores romances brasileiros do século 21, escritos por mulheres publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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