Escrevi
dois livros sobre conspirações e, por conta disso, tudo quanto é teoria cretina
ou ideia maluca acaba, cedo ou tarde, me alcançando. Terra Plana, Terra Oca,
Reptilianos, Bilderbergs, Illuminati… Esses troços. O povo me manda links e
reportagens via twitter, e-mail, zap ou Facebook.
É
claro que a pandemia de Coronavírus está empesteada de conspirações. A mais
popular delas diz que a contaminação em escala mundial é uma trama da
Illuminati, a organização secreta que planeja implantar uma ditadura global
hiper-capitalista que, entre outras sacanagens, vai trazer de volta a
escravidão para os falidos e inadimplentes.
Isso
não faz o menor sentido, você pensa, pois a primeira vítima da virose será a
própria globalização, certo? Quando essa nova Peste Negra acabar, o mundo vai ficar
mais fechado, mais xenófobo e mais entupido de bandeiras que separam quintais,
como cantava o Raulzito.
Os
otimistas acreditam que um inimigo comum — e invisível — é a única coisa capaz
de unir uma humanidade esfacelada por questões políticas, questões de gênero, questões
raciais, questões históricas, questões sobre “Star Wars” e várias outras
questões inquestionáveis. Os otimistas são muito otimistas. O imperador
Palpatine, por exemplo, ensina outra coisa. O personagem original de George
Lucas, é claro, e não o clone da trilogia vagabunda da Disney. Na saga “Star
Wars”, o lorde sith inventa um falso inimigo e forja uma guerra apenas para destruir
a República e acabar com a democracia. O medo é sempre um catalizador para
governos fortes e centralizadores desde que o mundo é mundo. A grande sacada de
George Lucas, que a Disney jamais vai entender, é mostrar como a democracia se
enamora da ditadura e como um cara legal e bem-intencionado como o Anakin
Skywalker se transforma num fascista espacial.
E
aí, quando você lembra no Palpatine, até que a teoria conspiratória que envolve
a Illuminati faz algum sentido. Nunca vi tanta gente escrevendo que o mundo
precisa de uma liderança global e centralizadora para enfrentar futuras ameaças
na linha do Coronavírus. A pandemia fez a gente aceitar tranquilamente até
mesmo o “toque de recolher” em países democráticos, onde o direito de ir e vir nunca
foi questionado. Claro que é necessário ficar em casa e tentar impedir a
contaminação exponencial.
Ninguém
discorda disso, mas o precedente é dos mais perigosos e é preciso zelar para
que ele não se transforme em regra. Outro dia vi gente no Twitter batendo
palmas para a ditadura chinesa, como se ela fosse a solução e não a causa do
problema.
Parece
ou não parece que o mundo faz parte de um roteiro elaborado por um diabólico
lorde sith? A nossa sorte é que o Bolsonaro, nosso Palpatine local, é burro e
tosco demais para aproveitar a oportunidade. Quem nasceu pra Jabba The Hutt
nunca chega a Darth Vader. Ainda bem.
Como Palpatine explica o Coronavírus publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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