Em um ano tão turbulento como 2020, a literatura é uma das melhores armas a serem usadas contra a desesperança. Para ajudar os leitores, a Bula reuniu em uma lista 15 ótimas indicações para descobrir ou redescobrir esse ano. A seleção abrange obras aclamadas de diferentes épocas e nacionalidades, que surpreendem o leitor e valem a (re)leitura.
Em um ano tão turbulento como 2020, a literatura é uma das melhores armas a serem usadas contra a desesperança. Tendo o Dia Mundial do Livro como inspiração, a Bula reuniu em uma lista 15 ótimas indicações para descobrir ou redescobrir esse ano. A seleção abrange obras aclamadas de diferentes épocas e nacionalidades, que podem surpreender o leitor e valem a (re)leitura. Entre os títulos escolhidos, estão o recente “Meu Ano de Descanso e Relaxamento” (2019), de Ottessa Moshfegh; o romance brasileiro “Nunca Houve um Castelo” (2018), de Martha Batalha; e o clássico “O Complexo de Portnoy” (1969), de Philip Roth. Os livros estão organizados de acordo com a data de lançamento: do mais recente para o mais antigo.
O livro se passa no ano 2000, em Nova York, uma cidade cheia de possibilidades. E a narradora de “Meu Ano de Descanso e Relaxamento” não tem motivo para queixas. Ela é jovem, bonita, recém-formada em uma renomada faculdade, trabalha numa galeria descolada, mora Upper East Side e recebeu uma herança polpuda. Mas traz um enorme vazio no peito. E não apenas porque perdeu os pais ou por causa da relação destrutiva que desenvolveu com sua melhor amiga. O que pode estar tão errado? Durante um ano, ela passa a maior parte do tempo dormindo, embalada por uma combinação de remédios prescritos por uma psiquiatra inescrupulosa.
Best-seller em todo o universo de língua espanhola, “A Uruguaia” é uma epopeia tragicômica sobre a busca pela felicidade. Lucas Pereyra, uma escritor argentino bem-sucedido e recém-chegado aos 40 anos, conhece uma bela uruguaia, chamada Magali Guerra, em um festival literário. Os dois se beijam, mas não passa disso. Lucas é casado e tem um filho. Um ano depois, ele planeja uma viagem a Montevidéu para receber uma dívida, mas também para se reencontrar com Magali. Tratando de temas como amor e culpa, responsabilidade e libertação pessoal, esse livro estabelece de uma vez por todas o talento de Pedro Mairal como um dos nomes de destaque de um novo “boom” da literatura latino-americana.
Martha Batalha recria a trajetória dos descendentes de Johan Edward Jansson, cônsul da Suécia no Brasil. Para contar essa história, a autora relata duas festas de Ano Novo que foram marcantes para a família. Na primeira, no fim do século 19, Johan Edward Jansson conhece Brigitta, em Estocolmo. Eles se casam, mudam para o Rio de Janeiro e constroem uma casa num lugar ermo e distante do centro, chamado Ipanema. Setenta anos depois, Estela, recém-casada com o neto de Johan, presencia uma cena desastrosa para seu casamento em uma festa de Réveillon. “Nunca Houve um Castelo” explora como esses dois eventos definiram a trajetória dos Jansson ao longo de 110 anos. É uma comovente saga familiar sobre escolhas, arrependimentos e as mudanças imperceptíveis do tempo.
A solidez do casamento de Oscar é ameaçada pela presença de Nelson, ex-namorado de sua mulher e desafeto dos tempos de juventude. Recém-chegado do Acre, ele se muda para o mesmo prédio do casal, na Vila Buarque, centro de São Paulo. Perdido entre a paranoia, o ciúme de Marcela e lembranças de adolescência nas praias de Santos na década de 1980, Oscar vaga por São Paulo esbarrando em feridas do passado e ameaças de violência que parecem sair das ruas e invadir com força sua rotina morna e previsível. Acre mergulha o leitor numa cidade sufocante e hostil, onde preconceito, brutalidade e decadência brotam a cada esquina.
A história se passa em uma terra fictícia, há séculos. Em algumas zonas, aldeões vivem em abrigos cavados nas encostas dos montes, ligados uns aos outros por passagens subterrâneas. É numa dessas cavernas que mora o casal de idosos, Axl e Beatrice. Um dia, eles decidem que irão procurar o filho que não veem há anos, de quem pouco se recordam. Durante a viagem, eles enfrentam muitos perigos, conhecem pessoas maldosas e temem os boatos sobre a existência de um dragão. Eles também percebem que uma estranha condição está acometendo aos poucos pessoas de todos os lugares: a perda de memória. Kazuo Ishiguro, escritor nipo-britânico, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017.
Constituído inteiramente por um diálogo, o livro é centrado em Amanda, mãe de uma garota chamada Nina. Ela conversa com David, o filho de Carla, uma amiga que mora na vizinhança. Os dois estão numa zona rural da Itália, onde o campo se transformou significativamente devido ao uso de agrotóxicos. Agora, impera um clima sombrio na região. Animais e pessoas começam a morrer em circunstâncias obscuras. Por meio do diálogo entre Amanda e David, o leitor deve juntar as peças para descobrir o que está acontecendo. “Distância de Resgate” é o primeiro romance de Samanta Schweblin, apontada pela crítica como herdeira do realismo mágico de Júlio Cortázar.
Da São Francisco dos anos 1970 à Nova York de um futuro próximo, Jennifer Egan tece uma narrativa que alterna vozes e perspectivas, cenários e personagens para contar como os sonhos se constroem e se desfazem ao longo da vida. A obra é composta por histórias curtas, 13 faixas sobre relações familiares, indústria fonográfica, jornalismo de celebridades, efeitos da tecnologia, viagens e a busca por identidade versus o esfacelamento de ideais —, interligadas pelas memórias de um grupo de personagens em diferentes pontos de suas vidas. A obra deu à Jennifer Egan o Prêmio Pulitzer de Ficção em 2011.
Em uma remota região da Polônia, vive a sra. Dusheiko, uma professora de inglês aposentada que costuma se dedicar ao estudo da astrologia, à poesia, à manutenção de casas para alugar e a sabotar armadilhas para impedir a caça de animais silvestres. Sua excentricidade é amplificada por sua preferência pela companhia dos animais aos humanos e pela crença na sabedoria advinda dos astros. Quando alguns caçadores da região começam a morrer misteriosamente, Dusheiko tenta descobrir quem é o responsável pelos assassinatos. A polonesa Olga Tokarczuk ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2019 e o Man Booker Prize em 2018.
A vegetariana conta a história de Yeonghve, uma mulher comum que, pela simples decisão de não comer mais carne, transforma uma vida aparentemente sem maiores atrativos em um pesadelo perturbador e transgressivo. O romance apresenta o distanciamento progressivo da condição humana de uma mulher que decidiu deixar de ser aquilo que marido e família a pressionaram a ser a vida inteira. A recusa de Yeonghve é vista como radical e se torna uma escolha destrutiva, que parece infectar todos que são próximos a ela. Narrado a três vozes, “A Vegetariana” é uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo.
“A Filha Perdida” acompanha os sentimentos conflitantes de uma professora universitária de meia-idade. Aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá, Leda decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se recordar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda lembranças que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.
Fun Home é um marco dos quadrinhos e das narrativas autobiográficas, uma obra sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio. Nesta aclamada autobiografa em quadrinhos, ela explora a difícil, dolorosa e comovente relação com o pai. A autora retraça também os próprios passos, da criança que cresceu entre os cadáveres da funerária da família, na zona rural da Pensilvânia, à jovem que se encontrou nos livros e na arte. Num trabalho sutil, Bechdel trilha o caminho de sua vida em busca de um pai enigmático e incontornável.
“Chove Sobre Minha Infância” nasce das vivências reais do paranaense Miguel Sanches Neto, mas não é uma autobiografia. Mesmo quando se vale de suas próprias experiências, o autor não busca a verdade factual, mas a psicológica. Ainda pequeno, o protagonista, que leva o mesmo nome do autor, perde o pai analfabeto. Como herança, recebe cadernos em branco com a missão de preenchê-los. Muito pobre, a mãe de Miguel se casa com Sebastião, um caminhoneiro que se torna proprietário de uma cerealista. Com vocação para as letras, o garoto passa toda a infância e adolescência em embate com o padrasto, que despreza qualquer outra ocupação que não seja braçal.
Em conversas com um psicanalista, o advogado nova-iorquino Alexander Portnoy discorre sobre seu passado: a infância abastada, a descoberta do sexo na adolescência com as tentativas frustradas de perder a virgindade, e sua vida atual, em um relacionamento conturbado com uma amante bela, mas semianalfabeta. Portnoy confessa que foi impelido ao longo da vida por uma sexualidade insaciável, mas ao mesmo tempo refreado pela mão de ferro de uma infância inesquecível. Afinal, ele é totalmente incapaz de se livrar da ligação paralisante com a mãe. Quando lançado, em 1969, “O Complexo de Portnoy” se tornou best-seller e foi saudado como a consagração definitiva do talento de Philip Roth.
Dos subúrbios de Boston para uma prestigiosa universidade para mulheres. Do campus para um estágio em Nova York. O mundo parece estar se abrindo para Esther Greenwood, que agora trabalha na redação de uma revista feminina e possui uma intensa vida social. Mas, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que leva a jovem do glamour a uma clínica psiquiátrica. Único romance da poeta Sylvia Plath, “A Redoma de Vidro” é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos de 1952, quando Plath tentou o suicídio e foi internada. Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante exemplar que sofreu uma grave depressão.
15 livros para descobrir ou redescobrir em 2020 publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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