Quando nossa vida voltará ao normal? Esse é o pensamento que me acompanha diariamente. Tenho sentindo falta da minha rotina. Sim, daquela correria que, às vezes, me deixava cansada ao final do dia. Hoje, aquela vida parecia normal, e não louca. Loucura mesmo é esse negócio de pandemia.
Quando nossa vida voltará ao normal? Esse é o pensamento que me acompanha diariamente. Tenho sentindo falta da minha rotina. Sim, daquela correria que, às vezes, me deixava cansada ao final do dia. Hoje, aquela vida parecia normal, e não louca. Loucura mesmo é esse negócio de pandemia.
Ao sermos colocados em quarentena, tive insônia, algo que dificilmente acontece — eu sou daquelas pessoas que amam dormir. Tive que ler, assistir TV, ouvir música e rezar para procurar o sono; mas a cabeça não parava de pensar em tantas possibilidades. Números de infectados, de entubados e de mortes diárias.
Uma amiga me telefonou e disse que estava se sentindo como se estivesse num daqueles filmes de fim do mundo. Um conhecido perdeu o emprego. Um desconhecido perdeu o pai para o novo coronavírus. Uma senhora perdeu a fé. Eu me perdi diante de tanta coisa nova em tão pouco tempo.
Tive vontade de chorar. A depressão que estava bem medicada e quietinha (como uma pessoa que convive com a gente e não perturba e nem faz barulho) acordou impiedosa. Chorei. Por mim, pelos outros. Por nossos receios e nossas saudades. Tive vontade de abraçar tanta gente que estava distante.
Quando retornei meus atendimentos no consultório (apesar da Covid-19, as outras doenças continuam existindo), vi nos meus pacientes as minhas próprias aflições: “Dra, tenho medo de sair de casa”, “estou tão preocupada com meus avós”, “tenho saudade dos meus netos”, “meu receio é não conseguir pagar as contas”, “sinto falta dos almoços aos domingos”, “o mundo nunca mais será o mesmo”.
Estamos vivenciando algo totalmente novo e imprevisível. São tantas informações científicas, fake news e recomendações divergentes. Deixei um pouco de lado essas questões e peguei um livro para me distrair. Na literatura há medicações milagrosas, como Rubem Alves. Como seus escritos leem a minha alma! Encontrei conforto em sua crônica “Onde está a minha esperança?”. Tinha quase que me esquecido: a esperança é o dia de amanhã; e ela está em mim, em você, em nós. A esperança está na vontade pela vida; e é construída com nossas tristezas e alegrias.
Dizem que depois da pandemia seremos pessoas melhores. Quero acreditar nisso. Que nossa capacidade de suportar nos fará entender o que é resiliência. Que aprenderemos a dar mais valor às coisas que realmente importam. Meu sobrinho de 6 anos, que mora em outro estado, me enviou uma mensagem de áudio falando que depois que o coronavírus for embora, nos encontraremos para matar a saudade.
Não sei quando a nossa vida voltará ao normal. Nem sei dizer se o normal será diferente do que é hoje. Porém, independentemente de como estiver o mundo, eu sei onde mora a minha esperança.
Na literatura há medicações milagrosas: eu bebo Rubem Alves publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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