A moda agora são as lives de sertanejos. Inspirado nesses fatos históricos, impus-me a tarefa de elaborar uma lista pragmática das 15 maiores duplas sertanejas de todos os tempos. Maiores, não necessariamente melhores. O resultado surgiu de uma complexa equação envolvendo valor histórico, influência, permanência, proposta estética e representatividade em seu período de atuação.
A moda agora são as lives de sertanejos. Inspirado nesses fatos históricos, impus-me a tarefa de elaborar uma lista pragmática das 15 maiores duplas sertanejas de todos os tempos. Maiores, não necessariamente melhores. O resultado surgiu de uma complexa equação envolvendo valor histórico, influência, permanência, proposta estética e representatividade em seu período de atuação. Por esses critérios, infelizmente, ficaram de fora duplas importantes como Zilo e Zalo, Zico e Zeca, Cacique e Pajé, Mococa e Moraci, Palmeira e Biá, Zé do Rancho e Zé do Pinho e Silveira e Silveirinha; boas duplas femininas como Irmãs Freitas, Irmãs Galvão e As Marcianas; cafonas legais como Duduca e Dalvam, Mato-Grosso e Matias, César e Paulinho e João Mineiro & Marciano; e mesmo estrelas platinadas como João Paulo e Daniel e Gian & Giovani. Duplas competentes da atualidade, como Victor e Leo e Mike e Luan, também, por ainda não terem estrada suficiente. O mesmo para duplas supervalorizadas como Jorge e Mateus.
Por focar somente duplas, não foram inclusos personagens fundamentais como Renato Teixeira, Rolando Boldrin, a grande dama Inezita Barroso; e trios como: Da Vitória, Parada Dura e Os Filhos de Goiás.
Para muitos, e eu concordo, trata-se da melhor dupla caipira de todos os tempos. Mais do que artistas, estão no domínio das lendas. Tião Carreiro foi o Pelé dos violeiros, sendo impecável em todos os fundamentos de sua arte. Pardinho é seu Coutinho, o melhor e mais entrosado parceiro que o Rei do Futebol teve nos anos de ouro do Santos. Entre seus muitos clássicos estão “Pagode em Brasília”, “Rio de Lágrimas” e a insuperável interpretação de “Rei do Gado”.
Tornaram-se sinônimo de dupla caipira, protagonizando filmes e comandando o célebre programa de televisão “Na Beira da Tuia”. Numa justa homenagem, estrelaram um episódio do prestigiado programa “Ensaio”, da TV Cultura, lançado em DVD, no qual relembraram suas vidas e carreira. Muitas de suas músicas entraram para o imaginário coletivo, como “Cana Verde”, “Baile na Roça” e “Chico Mineiro”.
Tecnicamente, é uma das melhores duplas de todos os tempos, mas nem sempre são lembrados como merecem. O repertório com pérolas como “Peito Sadio”, “Canoeiro” e “Pagode” comprova que estão entre os grandes.
Talvez a mais lírica e romântica entre as duplas caipiras da velha guarda. Seu repertório está repleto de músicas sobre amores perdidos e saudades de um campo que não existe mais. Destaca-se nesse rosário de lamentações “Saudade de Minha Terra”, “Lágrimas da Alma” e “Esquina do Adeus”.
Dupla fortemente influenciada pela música mexicana. Inclusive no visual, ostentando grandes chapéus e coletes pretos de mariachis. Entre seus melhores trabalhos estão “Mágoa de Boiadeiro”, “Boneca Cobiçada” e a saga épica “Os Três Boiadeiros”.
Uma das duplas com a carreira mais longeva e aclamada da lista. Em seu vasto repertório só não aprovo a gravação da fraca “O Rei do Café”, dispensável resposta para “O Rei do Gado”, que apesar de tudo fez sucesso. Felizmente, para compensar essa bobagem, Liu e Leo possuem no currículo obras de arte como “O Ypê e o Prisioneiro”, “Sementinha” e a impagável “Prato do Dia”.
Casamento perfeito de vozes. Influenciaram diversas gerações de duplas compostas por um cantor e uma cantora. Nenhuma chegou ao mesmo nível. Cascatinha e Inhana, apesar do estilo brejeiro, conseguiam imprimir certa sofisticação às músicas que facilmente poderiam resvalar no cafona. Essa habilidade pode ser observada nas gravações que fizeram de “Flor do Cafezal”, “Colcha de Retalhos” e “Índia”.
Artistas intuitivos de extrema sofisticação, os irmãos Pena Branca e Xavantinho conquistaram o respeito de medalhões da MPB, como Chico Buarque e Milton Nascimento. Fizeram interpretações definitivas de clássicos como “Cio da Terra”, “Calix Bento” e “Cuitelinho”, talvez o mais belo tema recolhido do folclore brasileiro.
Inovadores estéticos, foram os principais responsáveis por incorporar batidas de rock na música sertaneja, incluindo guitarra, baixo e bateria em suas gravações e apresentações ao vivo. Também inovaram no visual, ostentando cabelos longos e óculos escuros. O disco que gravaram interpretando rádionovelas de faroeste é impagável como diversão descompromissada, imortalizando personagens como o delegado Lobo Negro, Amazonas Kid, Pedro Querosene e Buck Sarampo. Na mesma linha, fizeram também o filme “Chumbo Quente”, de 1977, um verdadeiro faroeste caboclo. Entre seus tiros certeiros estão “O Último Julgamento”, “O Lobisomem” e a hilariante “História de um Azarado”.
Espécie de Raul Seixas do sertanejo. Mesmo quem não gosta de rock conhece e cantarola músicas de Raul. Mesmo quem não gosta de sertanejo conhece e, por reflexo condicionado, cantarola músicas de Milionário e José Rico. Em todo caso, é preciso respeitar uma dupla que mereceu estrelar um filme dirigido pelo único cineasta que se habilitou como imortal da Academia Brasileira de Letras, Nelson Pereira dos Santos, o longa-metragem “Estrada da Vida” (1979). Entre suas mais ricas interpretações estão “Sonho de um Caminhoneiro”, “Duas Camisas” e, claro, “Estrada da Vida”.
Conhecidos pela afinação e senso de humor, adotaram sem pudores o estilo “cowboy do asfalto”, ajudando a divulgar o sertanejo entre a classe média urbana, que até então se envergonhava de consumir músicas de duplas mais antigas. Ao mesmo tempo, sempre fizeram questão de exaltar os pioneiros do gênero, como quando homenagearam Tião Carreiro na regravação que fizeram do clássico “Amargurado”. Com eles se tornou elegante e “cult” gostar de modas de viola. Seus melhores momentos incluem “Boiada”, “Hino de Reis” e “A Lenda do Caipora”.
Os irmãos Mozart da música sertaneja. Verdadeiros meninos prodígios, começando a carreira na infância (o primeiro disco oficial é de 1970). Foram os maiores responsáveis pela massificação do gênero, urbanizando o sertanejo ao amalgamá-lo de forma definitiva com a música romântica. Abriram as portas das rádios FM’s e TV com a música “Fio de Cabelo”, a partir de 1982. Privilegiar timbres agudos virou tendência desde então, influenciando inclusive o Sertanejo Universitário. Dividem opiniões, os puristas nem sempre aprovam, mas a importância histórica da dupla é inquestionável. Entre seus hits estão “No Rancho Fundo”, “Somos Assim” e “Falando às Paredes”.
Em termos de visibilidade midiática, nenhuma dupla sertaneja foi tão presente quanto Leandro e Leonardo. Tinham a vantagem de, em comparação com os concorrentes, serem considerados galãs. Tiveram até mesmo uma série no horário nobre da televisão aberta, com direito a episódio gravado na Disneylândia e participações especiais de atores consagrados. Apesar de serem muito mal gravados, a dupla foi uma fábrica de hits, ainda mais do que seus colegas de grupo AMIGOS, Chitãozinho e Xororó e Zezé di Camargo e Luciano. Leandro, morto de forma trágica no auge da carreira, foi enterrado como herói nacional. O carisma incontestável de Leonardo garantiu-lhe uma carreira solo de sucesso. Entraram no imaginário popular músicas como “Entre Tapas e Beijos”, “Solidão”, “Talismã” e “Não Aprendi Dizer Adeus”.
Amados e odiados na mesma proporção. São frequentemente acusados de serem os precursores da mediocridade reinante no atual cenário sertanejo. Os gritos de Zezé, e suas veias saltando do pescoço, entraram para o anedotário. Além de outras histórias mais picantes. O fato é que conquistaram o status de superstars, chegando a gravar com Julio Iglesias, e certa respeitabilidade cultural quando do lançamento do bom filme biográfico “2 Filhos de Francisco”. Da trilha sonora do filme saiu um de seus bons momentos, “No Dia em Que sai de Casa”. Vale lembrar ainda a regravação de “Serafim e Seus filhos” e, para ódio de muitos, o hit pegajoso “É o Amor”. Na dúvida, escutem na versão da Maria Bethânia.
Os queridinhos da crítica, Zé Mulato e Cassiano ganharam os mais importantes prêmios da indústria musical brasileira na categoria regional. Foram, inclusive, indicados para o Grammy Latino. Gravam desde o final de década de 1970 e, embora nunca tenham se tornado estrelas midiáticas, ostentam o status de últimos representantes da autêntica música caipira. Sempre bem-humorados, estão entre seus melhores trabalhos “O Homem e a Espingarda”, “As Vantagens da Pobreza” e “A Vida é Dura Para Quem é Mole”.
Menção honrosa
Sim, essa dupla não existe. São personagens da novela “O Rei do Gado”. Mas a parceria entre o talentosíssimo violeiro Almir Sater e o mestre do carisma Sérgio Reis não poderia ser ignorada. Suas versões de “Boiadeiro Errante”, “Mágoa de Boiadeiro” e, claro, “O Rei do Gado” são excepcionais, dignas dos mestres que os inspiraram.
As 15 maiores duplas sertanejas de todos os tempos publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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