Somos feitos de antagonismo. Somos uma parte que cede, outra que resiste, uma parte egocêntrica, outra solidária. Uma que esnoba as diferenças sociais, outra que se compadece das injustiças. Somos feitos de um material antagônico que diz e se contradiz. Somos tecidos por forças conflitantes, mas que impulsionam a vida porque fazem movimento.
Somos feitos de antagonismo. Somos uma parte que cede, outra que resiste, uma parte egocêntrica, outra solidária. Uma que esnoba as diferenças sociais, outra que se compadece das injustiças. Somos feitos de um material antagônico que diz e se contradiz. Somos tecidos por forças conflitantes, mas que impulsionam a vida porque fazem movimento. Conflito faz movimento! E olha, ninguém muda nada no quentinho. Todo movimento traz a oportunidade de transformar algo e depois se acalmar. Faz assentar o cimento na casa, que em tempos de conflito, parecia feita de tijolo exposto. Veja, traz oportunidade, não garantias. O equilíbrio dessas forças antagônicas depende da negociação que fazemos conosco. Um pouco de prazer é nosso por direito e necessidade, outra parte cedemos. Um pouco pra você, um pouco pra mim. Uma parte entregamos à empresa que trabalhamos, à quem recebe nossas benfeitorias, aos filhos, ou mesmo, abrimos mão momentaneamente do nosso prazer para aliviar alguém que está sofrendo.
O isolamento coletivo deixou exposto, esculpido em carrara, o que verdadeiramente somos, pensamos, queremos e necessitamos. À tona ficaram as antíteses sociais e pessoais, a pandemia elevou nossa essência e necessidades à potência mil. Nossos conflitos e contradições todos na bandeja, vistos agora a olho nu. Quem carrega o quê na mala de si mesmo?
Sabe de uma coisa, o amor fica poderoso quando ele é investido parte em si e outra parte é destinado ao próximo. Essa sim é a verdadeira revolução! As ruas estão vazias, ainda bem, mas os corações de quem carrega essa necessidade amorosa estão cheios, transbordando de amor. Bilhetes de “eu faço suas compras”, “fique em casa”, “tá aqui uma boa gorjeta pelo seu trabalho duro”, “obrigada por salvar meu avô”, “fiz comida congelada pra você”, “como você está?”, “eu te amo, não se esqueça”. É preciso lembrar sobre o amor, sobre a urgência da presença dele em nossas vidas.
Daqui do lado de dentro e também através da janela do segundo andar, eu vi: a cidade não está vazia porque há na cidade quem esteja cheio de amor ao próximo.
Fotografia: Christo Anestev
A cidade não está vazia, existe, sim, amor em São Paulo publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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