Uma ideia bastante questionável na mente, uma cara de pau invejável e
muita coragem. Talvez seja essa a fórmula do sucesso que impulsiona muitos dos
ditos empreendedores a colocar no mercado cursos absolutamente sem noção, cuja única
garantia de eficácia é a palavra de quem os vende. O pior é que há um grande número
de consumidores dispostos a pagar caro por esse duvidoso tipo de serviço.
Pensando no bem-estar social e na primazia da sanidade coletiva, trouxemos uma lista com os dez piores cursos oferecidos por charlatões de todo tipo. A criatividade de alguns deles é fascinante, e envolve desde lições de empoderamento feminino (ensinadas por homens) até a fina arte do coaching aplicada a animais irracionais. Sem maiores spoilers, vamos conferir esse pitoresco, e ao mesmo tempo maravilhoso, rol cuidadosamente selecionado.
Uma das piores e mais tóxicas formas de tentar ajudar os outros é através da desinformação. Existem indivíduos — acredite! — que disseminam a cura pelo afastamento de “crenças limitantes”. Propõem, para tanto, a negação da medicina tradicional e a busca da cura sem remédios. Estamos falando de gente sem formação na área de saúde e que se apresenta como teórica do neocurandeirismo nas redes sociais, prejudicando um sem-número de pessoas com a propagação dessa ignorância criminosa. Há, por exemplo, quem se autoproclame psicoterapeuta comportamental e afirme ser capaz de curar o câncer e a depressão.
Qual a melhor forma de acumular riquezas e prosperar na vida? Errou se pensou em algo relacionado à educação financeira. Para determinado segmento de coaches, o segredo está em fazer uma maratona de gratidão. Há, inclusive, especialistas e doutores em gratidão, que dão cursos para os iniciantes nessa nova e sensacional área do conhecimento científico do século 21. Seria algo inócuo se não fossem os valores cobrados pelas sessões de como ser grato à vida. E você, já agradeceu por tudo de positivo e negativo que lhe aconteceu hoje?
O ato de constelar tem íntima relação com a ascendência das pessoas. Lembra da cena do Rei Leão em que Simba aprende sobre seus antepassados? Pois assim é com o coach de constelação. Ele se propõe a agrupar pessoas em uma sala e energizá-las, buscando na representação de uma cena e na raiz familiar do problema a solução para a vida do coachee (como é chamado o paciente). A vibração de palavras do coach que conduz a sessão é o norte para a cura. E a comprovação da eficiência desse processo fica a cargo de sua própria consciência.
Alguns coaches se imiscuíram no infeliz ramo da propagação do machismo. Sem a menor vergonha na cara, chegam a ensinar que um menino não pode ser criado pela mãe, já que assim não ativaria sua masculinidade, acabando por perder a virilidade e ficando “emasculado”. Mais do que um desabono a profissionais sérios, há aqui um claro implemento da cultura da ignorância no seio do núcleo social. Infelizmente, há quem pague por treinamentos com essa gente de mente medieval.
Talvez o mais curioso nesse ramo de coaching seja o fato de que grande parte de seus “profissionais” jamais teve qualquer contato com os estudos dos grandes teóricos da mecânica quântica. Indo mais além: talvez nem de Física eles gostassem na escola. Ainda assim, vendem a ideia de que haveria aplicação do que ocorre no mundo micro em nossa realidade macro, ou seja, defendem uma improvável conexão entre um distante universo subatômico e o nosso cotidiano de problemas. Certamente não é preciso ser formado em Física para perceber que há uma grande falha nessa forma peculiar de pensamento. É mais um daqueles casos de adoção de conceitos desconexos em realidades impossíveis.
Hoje em dia há uma proliferação de pessoas que, após pular de galho em galho no mundo das pirâmides financeiras, viraram coaches de vida. Ostentando patrimônio nas plataformas digitais, eles não pertencem a um segmento específico e adotam todo tipo de firula mental para aparentar sabedoria. Leitores assíduos de livros rasos de autoajuda, os coaches piramideiros dão cursos que vão da oratória à magia de como enriquecer rapidamente. Só não entendem que não foi graças à sua pífia base teórica que prosperaram, mas sim pelo fato de cooptarem pessoas ingênuas para as duvidosas empresas em que se aventuraram.
Um dos casos mais interessantes. É preciso notar que, na maioria das vezes, as pessoas são atraídas mais pela segurança de quem transmite as informações que pelo conteúdo em si. E, sem sombra de dúvida, um ser humano que se disponha a ser coach de relacionamentos precisa ter muito dessa confiança, além de uma autoestima beirando a indestrutibilidade. Sem questionar a existência de verdadeiros ases da conquista, o foco aqui vai para os parasitas — aqueles que não conseguem ter estabilidade nas próprias vidas amorosas, mas querem ditar regras para o relacionamento alheio. Uma ironia finíssima, de dar inveja a Machado de Assis.
Pode parecer brincadeira, mas há homens que se aventuram a lecionar sobre feminismo para mulheres. Tão audaciosos quanto ridículos, esses coaches trabalham com mulheres em situação de vulnerabilidade e exploram suas experiências ruins para ganhar dinheiro. Sem o mínimo bom senso, não conseguem enxergar que não têm lugar de fala e se agarram ao famoso mansplaining para lucrar com uma vivência que não têm.
Nem os nossos queridos companheiros pets escapam da proliferação dos coaches. Obviamente, não estamos falando dos tão conhecidos encantadores de cachorro e adestradores em geral. Estes são profissionais de respeito, que conseguem de fato influenciar o comportamento dos animais. O charlatanismo aqui acompanha os famigerados coaches que cobram caro para destravar o potencial máximo de nossos semoventes, como se eles fossem impedidos de prosperar em suas vidas diminutas pelas tais “crenças limitantes”. Não há obstáculo para a criatividade desse pessoal.
Este tem direito a cem anos de perdão. Como trabalha com o intuito de ensinar coaches a se manterem firmes como coaches, não há como condenar sua prática. Institutos espalhados pelo país reúnem inúmeras dessas artes de transformação da vida alheia, e faturam bastante com a formação de uma crença inabalável nos profissionais da área. Sem dúvida, é uma ideia genial de alguma mente brilhante. Nada mais justo que vincular a atividade desses coaches aleatórios à manutenção de sua constante aprendizagem, numa retroalimentação que representa uma cartada de mestre. Simplesmente espetacular!
Vergonha alheia: os 10 cursos mais bizarros e malandros oferecidos por coaches publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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