Para quem era criança nas décadas de 1980 e 90, os
domingos da infância ficaram na memória com ares saudosos de tempos que teimam
em não voltar. Dentre tantas lembranças, uma das mais marcantes é a dos
Trapalhões, quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. As boas
histórias e o programa dominical todos exaltam e conhecem bem. Contudo, um
documentário amador parece querer estremecer um pouco os contornos de sonho
desse cenário de faz-de-conta.
Talvez seja exagero comparar o sucesso dos Trapalhões
ao dos “quatro fabulosos” de Liverpool, os Beatles. Porém, guardadas as devidas
proporções, os “fab four” da comédia brasileira também encantaram e
influenciaram gerações durante as décadas em que seu programa foi exibido na
televisão. Foram pelo menos trinta anos marcando presença aos domingos, sem
contar a vasta filmografia do grupo, com 43 títulos, cinco deles figurando entre
as maiores bilheterias da história do cinema nacional. Definitivamente, não é
pouca coisa.
Liderada pelo carismático Renato Aragão, que largou a
advocacia e o futebol no Ceará para se aventurar no mundo do riso, a trupe colheu
os louros da fama durante muito tempo. A alegria contagiante do grupo, no
entanto, é colocada em xeque no documentário “Trapalhadas Sem Fim”, ainda não
lançado, que devassa os bastidores da carreira dos comediantes e apresenta o conturbado
clima existente entre eles. As relações de amor e ódio são perceptíveis através
de uma exposição dos acontecimentos feita por terceiros, uma vez que os
Trapalhões sobreviventes, Dedé Santana e Renato Aragão, se recusaram a
participar das filmagens.
O documentário é organizado por um pesquisador chamado
Rafael Spaca, que se debruçou sobre a história dos Trapalhões por mais de uma
década, e conta com relatos de várias personalidades e depoimentos de quem teve
contato direto com o grupo ao longo dos anos. É a partir daí que surgem as
controvérsias, com indagações sobre a riqueza de Didi em detrimento dos outros
integrantes e as disputas pelos holofotes. O lado do glamour acaba sendo
ofuscado por versões da história que envolvem uma suposta personalidade difícil
de lidar por parte de Renato. Segundo as fontes, ele exercia total controle sobre
as melhores piadas, os melhores esquetes e, principalmente, a quase totalidade
do dinheiro arrecadado, o que teria causado revolta nos demais.
Obviamente, o documentário não está sendo bem recebido
por fãs e pelos integrantes sobreviventes. Apesar de o conteúdo ser apenas insinuado
por “teasers” no canal do filme no Youtube, em entrevistas o diretor aponta que
há um movimento no sentido de impor uma espécie de censura, já que o próprio
Renato teria afirmado que tomaria as medidas cabíveis caso o filme fosse
realmente lançado. O Direito brasileiro, no entanto, veda qualquer censura
prévia, ainda que de “alterbiografias”. Todo esse rebuliço, é claro, contribui
para alavancar a expectativa em torno do lançamento da obra. Resta ao público
“da poltrona” aguardar para conferir o que promete ser uma bomba no mundo da
comédia nacional. Pelo visto, não sobrará Cacildis sobre Cacildis.
Trapalhadas sem Fim: o documentário sobre Os Trapalhões que não querem que você veja publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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