No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria,
Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, foram brutalmente
assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As
três combatiam fortemente aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Seus
corpos foram encontrados no fundo de um precipício, estrangulados, com os ossos
quebrados. As mortes repercutiram, causando grande comoção no país. Pouco tempo
depois, o ditador foi assassinado.
Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas instituiu 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência
Contra a Mulher, em homenagem às “Mariposas”. Ou seja, durante um dia no ano,
incitam-se reflexões sobre a situação de violência em que vive considerável
parte das mulheres em todo o mundo.
Mutilação genital é realizada em cerca
de 3 milhões de meninas e mulheres por ano (Fundo das Nações Unidas para a
Infância — UNICEF).
No Brasil, 43% das mulheres em situação de violência
sofrem agressões diariamente; para 35%, a agressão é semanal (Centro de
Atendimento à Mulher). Em média, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada em
nosso país. (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Mais de 100 milhões
de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados durante a próxima década
(UNICEF).
Num ranking mundial que analisou a desigualdade de
salários em 142 países, o Brasil ficou na posição 124 (Fórum Econômico
Mundial). Vão se passar 80 anos para que elas ganhem o mesmo que eles.
Igualdade de salários só em 2095 (Fórum Econômico Mundial).
Amanda Nunes, maior lutadora do UFC, ganha um terço do
que um campeão masculino da mesma modalidade recebe. Merryl Streep,
estrela hollywoodiana recordista de indicações ao Oscar, ganha menos da metade
do que os colegas de profissão mais bem pagos.
As brasileiras ganham, em média, 76% da renda dos
homens (IBGE). Apenas 5% de cargos de chefia e CEO de empresas são
ocupados por mulheres (OIT).
Em todo o mundo, 52% das mulheres economicamente
ativas já sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho (OIT).
“Crimes de honra” são homicídios de mulheres, jovens
ou adultas, a mando da própria família, por alguma suspeita ou caso de
“transgressão sexual” ou comportamental, como adultério, recusa de submissão a
casamentos forçados, relações sexuais ou gravidez fora do casamento
— mesmo se a mulher tiver sido estuprada. O crime é praticado para não
“manchar o nome da família”. 5 mil mulheres são mortas por crimes de honra no
mundo por ano (ONU).
70% de todas as mulheres do planeta já sofreram ou
sofrerão algum tipo de violência em, pelo menos, um momento de suas vidas
— independente de nacionalidade, cultura, religião ou condição social
(ONU).
A causa do dia 25 de novembro não é apenas a da mulher
mutilada, nem da que ganha menos para exercer o mesmo cargo. Não é apenas a da
mulher que sofre humilhação velada por se decretar livre em um país que se diz
civilizado, nem a da negra, que muitas vezes suporta a dupla rejeição, tanto
por seu sexo quanto por sua cor.
Essa causa é humanitária. É minha e sua, das crianças
e idosos, dos ricos e pobres, dos brancos, pretos e coloridos. Não é preciso
ser politicamente correto ou pertencer a algum partido.
Muito se discute acerca do nome “feminismo”,
cogitando-se que sua ala extremista lhe tenha conferido feições degradantes. A
própria atriz Maryl Streep, que denunciou seu salário absurdamente mais baixo,
comparado ao dos colegas, chegou a afirmar que não é feminista, mas apenas
“humanista e a favor do equilíbrio perfeito”. Mais tarde se justificou, falando
ter sido a acepção da palavra modificada, mas que se identifica com seu sentido
original.
Não é possível que um simples nome seja capaz de
desmoronar uma causa tão grande. Que se autodenominem feministas, humanistas,
humanitários, ou guerreiros. Eu sei, eu sei, “feminismo” é a luta pela
igualdade e muito me orgulho de escrever tal nome na testa, mas, se algum irmão
ou irmã preferir adotar outra nomenclatura e lutar pela mesma causa, estaremos
lado a lado.
Mais do que nomear a causa, é hora de colocá-la em
prática, de despertar a consciência e não aceitar que um tapa na cara seja —
literal ou metaforicamente — motivado pela existência de um órgão genital.
É hora de perguntar com honestidade: “Será que contribuo de alguma forma para
essa barbárie?”, “O que posso fazer para combatê-la dentro de meu microcosmo?”
Não é preciso muito para lutar por um mundo melhor.
Basta que haja um coração pulsante e sangue correndo nas veias.
25 de novembro: Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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